sábado, 19 de outubro de 2013

ESTA FOI FELICIDADE



ESTA FOI FELICIDADE

Vovó andava como se se flutuasse. Eu não via suas asas, mas tinha certeza que ela levitava e por onde ela passava ficava no ar um leve cheiro de alfazema misturado com o de gente que nos faz feliz.
Vovó era assim. A começar por seu nome – FELICIDADE -. Ela s. e deslocava como se não tocasse o chão e quando passava era só uma brisa perfumada que se aproximava. Assim sabíamos que ela estava próxima.
Quando estava na cozinha sempre havia um cheirinho de linguiça frita (que ela adorava), acompanhada por pirão de feijão. Noutras vezes era o cheirinho de torresmo com café fresco que ela mesma colhia no quintal, secava, batia no pilão de madeira e passava num coador de pano que tinha em seu bule de barro sobre o fogão à lenha.
Até hoje eu não sei se ela era mesmo minha avó ou apenas a felicidade disfarçada de gente, naquela pele morena que me dava beijos estalados na bochechas.

Mário Feijó
19.10.13

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

VAZIO



VAZIO
                                                       
Quando não estás por perto
Tenho sofrido de um vazio
Passa o vento envolvente
Que não me abraça

Vem a lua e não me enche
Sofro ausências de pensamentos
Falta-me inspiração
Encho-me de chuva e lágrimas

O mar que antes musicava
Todas as minhas noites
Emudeceu escondido
Atrás das dunas que nos separam

Nas noites nada acontece
Nado em minha cama
Como se tivesse naufragado
Num oceano seco deste vazio...

Mário Feijó
18.10.13

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

MY SWEET GIRL



MY SWEET GIRL

Eu lembro da doçura
Que havia em teus beijos
Dos teus risos frescos
Cascatas em tardes quentes

Eu queria ter sido canibal
E ter-te comido por inteira
Não ter me contentado
Com tão poucos beijos

Perdemos noites enluaradas e
Não tivemos lençóis macios
Estendidos em varais
Nos quintais alheios

Sorte tua seres feliz
E nem lembrar mais de mim
Porém eu continuei te procurando
Em todas as esquinas do mundo...

Mário Feijó
17.10.13

sábado, 12 de outubro de 2013

UMA CRIANÇA CHORA



UMA CRIANÇA CHORA

Onde estão as crianças?
Onde foram parar as crianças
Que comigo brincavam?

As crianças que eu pegava no colo
As que diziam me amar
Aquelas que me chamavam de herói?

Onde foram parar as crianças
Que comigo sorriam
Que brincavam de balanço
De bolinha de gude, de céu e inferno?

Onde foram parar as crianças
Que brincavam de esconder
Que brincavam de pega-pega
Que gostavam de trepar em árvores
De comer frutas no pé
E que tomavam banho no riacho?

Onde foram parar as crianças da minha vida?
Hoje sobraram as que de mim têm vergonha
Gente que topa tudo por dinheiro
Adultos mentirosos, sem solidariedade
Ficou dentro de mim há uma criança que chora...

Mário Feijó
12.10.13

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

SOU UM ABSTRATO, NUNCA FUI CONCRETO



SOU UM ABSTRATO, NUNCA FUI CONCRETO

Percebo, embora tardiamente, que poderia ter feito escolhas que me fizessem mais feliz.
Abri mão de amores, de escolhas profissionais, pelos outros. Não fiz sacrifícios por mim, mas pelos outros. Agora, embora tarde, estou começando a cuidar mais de mim, a fazer escolhas, sem me preocupar muito com o que os outros vão pensar. Houve muitos momentos que eu me esqueci de mim e me perdi pelo meio do caminho.
O encontro comigo é algo que me completa como ser humano, principalmente porque nunca me preocupei muito em acumular riquezas. Sempre quis um pouco de conforto, mas ter por ter nunca foi prioritário em minha vida. A minha riqueza é o meu caráter, embora muitas vezes tenham me julgado mal sem me conhecerem ou conversar comigo.
O ser humano é assim: o primeiro que chega falando mal do outro, leva a gente junto. Eu digo a gente porque até eu algumas vezes deixo-me levar pela opinião alheia, mas quando me dou conta disto sempre retruco e vou conversar com o outro.
Agora o tempo passa célere e cada vez mais eu dou adeus a amigos, a parentes, a conhecidos. Todos embarcam rumo a uma nova jornada e comigo também não é diferente.
Nosso corpo envelhece e com ele nossos sonhos se encolhem, a vontade desaparece e a dor é uma constante. Temos que nos preocupar conosco porque os outros nos esquecem e a solidão acaba sendo nossa rotina.
Eu não tenho mais medo dos outros, algumas vezes eu tenho medo é de mim...

Mário Feijó
11.10.13