sábado, 5 de agosto de 2023

O DRAMA DE UM MENINO ADOLESCENTE

 


O DRAMA DE UM MENINO ADOLESCENTE

 

Aos quatro anos ele baixou as calças na frente de outras crianças para se exibir para uma menina. Não era uma agressão sexual, era exibicionismo porque seu sexo estava excitado. Era apenas uma descoberta. No entanto o irmão mais novo contou a seu pai que lhe dera uma tremenda surra. Nada entendia, apenas registrou na memória a primeira incompreensão adulta para uma situação que poderia ter sido explicada. Não entendia o porquê, era uma exibição inocente, sem qualquer conotação sexual acentuada, mas fora visto como tal. E seu drama começava ali...

Aos sete anos ele descobriu que não era um menino igual aos demais. Em pé dentro do ônibus viu um casal sentado trocando carícias e um detalhe no rapaz chamou sua atenção. Naquele momento ficou excitado e viu que não teria mais paz.

Tinha medo de fazer amizades com outros meninos. Tornara-se recluso dentro de sua própria casa. Ele era um desastre jogando futebol e era frágil demais para enfrentar figuras mais fortes, os outros o viam como delicado e fraco.

Num determinado dia, com apenas nove anos, sentado numa carteira escolar dupla (eram mesa e cadeiras juntas), seu colega ao lado alisou suas pernas, ele não vira malícia naquilo, mas ficara envergonhado e encolheu-se todo, mas a sensação era boa, visto que em casa nunca recebera um beijo ou abraço dos pais, quanto mais um carinho. Mas sentiu naquilo o primeiro apelo sexual, conscientemente, de onde aquilo poderia levar. Era “pecado”, segundo a igreja, e um menino não podia trocar carícias com outro menino, ele assim pensava.

Superado os primeiros impulsos percebia que se apaixonava por meninas, mas sentia um “frisson” quando olhava para um ou outro menino bonito da escola, quando tinha apenas doze ou treze anos. E foi nesta época que ele se apaixonou por uma menina linda, chamada Maria da Graça. No entanto Maria da Graça era apaixonada pelo menino mais bonito do colégio – Jorge. As meninas ficavam ao seu redor feito abelhas em flores cheias de néctar. Ele sentia inveja, ciúmes, ou sei lá o quê e quando percebeu estava apaixonado pelo garoto também. Era tudo muito confuso, neste início de adolescência. Era tudo platônico, virginal, porém algo que torturava a mente do menino.

Sexualmente, nada acontecia para ele, seja com meninas ou meninos. Provavelmente não era o mesmo com os outros que viviam pelos cantos se agarrando e beijando. Mas, ele sentia um grande complexo por ser pobre e também por se achar feio e magro, ingredientes muito fortes para impedi-lo de tomar qualquer iniciativa amorosa. Para não ser marginalizado ele se tornara o melhor aluno da classe. Terminou o primeiro grau (na época ginásio) como o aluno com melhor média escolar entre as três turmas: 9,4 na média geral entre os 120 alunos das três turmas.

Dos treze aos vinte anos nada melhorou. Tudo piorava a cada dia. Chegara a pensar em suicídio muitas vezes. Porém, ele nunca fora corajoso, era um covarde, em sua concepção. Hoje sabemos que muitos adolescentes passam por isto e, alguns levam a cabo esta ideia. Há uma crise de identidade muito forte e alguns não têm coragem para “sair do armário” ou para conversar com alguém de confiança.

As primeiras experiências com o sexo oposto foram catastróficas. Tinha medo de doenças sexualmente transmissíveis e não conseguia se excitar com qualquer menina. Houve o caso de uma que o levou para o mato, atrás de umas pedras, na beira da praia. Pisara em merdas no escuro e o fedor, unido ao pavor o fizera fugir do lugar, sem ao menos tentar qualquer coisa.

Houve uma ocasião em que ele fora a um “baile” porque adorava dançar, mas a maioria não estava ali pra isto. Agarravam-se e às vezes nem saiam do lugar.  Observava que, a maioria das meninas, grudavam-se aos rapazes, feito trepadeiras, e, quando a música parava o rapaz tentava esconder a excitação e a calça molhada. Uma dessas meninas ao ser tirada por ele pra dançar grudou-se de tal forma, como se fora um velcro que gruda em um tecido e ao ser puxado faz até um barulho “crarrrrcc”. Ele não sabia direito o que fazer, pois não conseguia dançar direito nem ficar excitado para atender às necessidades daquela garota. Será que se fosse com um menino a coisa seria diferente... Na época era inadmissível tal hipótese, eram outros tempos. Hoje os adolescente são descolados, e, a maioria tira de letra a situação. Porém ele já tinha dezoito anos e era virgem. Haviam cobranças na família e entre os colegas e conhecidos. Tinha gente comentando... ele estava desesperado com sua virgindade. Tinha gente olhando atravessado e rindo do seu jeito delicado.

De repente sua irmã viera da escola com duas amigas, Maria de Fátima e Terezinha. Ambas ficaram interessadas por ele, mas os beijos de Maria de Fátima tinham sabor de fruta madura. Foram poucos os beijos que trocaram, mas até hoje ele lembra como se fosse jabuticaba estourando na boca. E, Terezinha mais descolada, começou a oferecer “vantagens”, tudo silenciosamente, mas ele começou a experimentar os prazeres do sexo, embaixo de uma parreira de uvas, nas noites em que ia visitá-la. Seus beijos não tinham o sabor de fruta madura, ele sentia falta dos beijos de Maria de Fátima, mas ela desaparecera por completo de sua vida.

Não ficaram por aí suas aventuras sexuais com o sexo oposto, porém ele logo caíra na armadilha de uma outra que aparecera, sorrateiramente, em sua vida. No entanto, havia alguns rapazes que só porque eram bonitos, atormentavam a sua mente platonicamente. Era uma coisa gostosa e ao mesmo tempo dolorida porque ele sabia que nada iria acontecer. Ele não permitiria.

Teve alguns filhos e quando percebeu que não era feliz saiu do casamento. Apaixonara-se por uma linda garota e fora feliz com ela durante muitos anos. Porém, o tempo desgastou a relação e ele desta vez mudou de cidade. Estava decidido a ficar só, porém mais uma mulher entrou em sua vida e ficara por alguns anos até morrer em um acidente.

Estava sozinho e começou a pensar na possibilidade de vivenciar sua bissexualidade e permitir experimentar viver, agora experiências com pessoas do mesmo sexo. Ele não queria viver sexo por sexo. Queria amar e ser amado. Até que descobriu alguém que tinha o perfil de homem que chamava sua atenção. No inicio tudo foi muito complicado, principalmente para a família do outro e ele estava feliz pelo peso que tinha tirado quando decidiu sair do armário, faz-se respeitar e é respeitado por amigos e parentes. Afinal os tempos são outros.

Passaram a viver esta história, de forma muito intensa e, pelo que me consta já estão juntos há quase dez anos. Se serão “felizes para sempre” só o tempo dirá, mas pelo menos, acredito eu, é a proposta de ambos.

 

Mário Feijó

Baseado em fatos reais

Sem data

domingo, 30 de julho de 2023

AMOR PRÓPRIO

 


AMOR PRÓPRIO

 

Para amarmos alguém

É preciso primeiro

Amar a si próprio

 

Como amar um outro

Quando não sabemos

Amar a nós mesmos?

 

Cuidar do corpo

Escolher alimentos saudáveis

Cuidar da alma

Cultivar bons sentimentos...

 

Tudo simples e básico

Como básico é o próprio amor

Então priorize-se! Ame-se!

Depois saia pelo mundo para Amar a quem quiser...

 

MARIO FEIJO

16.07.23

 


CUIDADO COM O QUE PEDE

 


CUIDADO COM O QUE PEDE

 

Muito cuidado

Quando pedir um amor na vida

Algumas vezes os amores são bandidos, cruéis

Peça um bom(a) companheiro (a) já basta

 

Um bom(a) companheiro (a) entende você

Compartilha o seu dia-a-dia

Divide tudo com você

E não tem ciúmes dos seus amigos

 

Já um amor, na maioria das vezes é egoísta

Quer você só para si

Anula seu crescimento

 

Um(a) companheiro (a) incrementa seus dias

A distância não é um incômodo

Porque sabe que você está disponível

Na hora que você precisar...

 

Mário Feijó

18.07.23

 

MEU GATO

 

NEGRINHO

 

              Faz alguns meses que apareceu em minha porta um gato adulto. Morto de fome foi se chegando e comia qualquer coisa que caísse no chão ou lhe fosse dado. No inicio era comida humana para um gato, mas como ele parecia não querer ir embora comprei ração. Ele se deliciava e passou a rejeitar qualquer comida que lhe fosse dada, só comendo ração. As comidas humanas deixava para os outros gatos que tentavam entrar no quintal, gatos vadios – pobres gatos – pensava.

              O tempo foi passando e ele não foi mais embora. Pouco a pouco foi entrando em casa e às vezes até nos faz uma massagem, como recompensa.

              Não tinha nome e gerou impasse na escolha de um, até que eu, que gosto muito de contrapontos pensei “ele é tão querido e amoroso” e, antigamente, quando as pessoas eram queridas e amorosas vovó dizia “vem cá negrinho”, o que me fez pensar de novo por que não chama-lo assim... porém, meu gato era branco. Se você chamar hoje uma pessoa de “negrinho” soa como preconceituoso. Mas danem-se os outros. Acho ser perfeito pra ele.

              Passado o drama do nome fui na agropecuária e comprei uma casinha pra ele. Vocês não acreditam que faz mais de um mês e ele não entrou na casinha. Ingrato! Eu querendo uma casa própria e ele com uma casa gratuita e não mora nela. Acho que é o ranço de morar na rua. Todas as noites some.

              Todo dia às cinco da manhã ele já está na porta esperando ração. Há dias que ouço ele “discutindo” com os gatos de rua. Alguns, ele não deixa entrar no quintal. No entanto tem uma gata amarela que ele disfarça, mas deixa sempre um restinho de ração pra ela.

              Semana passada ele apareceu em casa com arranhões na cara e sangue nos olhos. Deve ter brigado com os tais gatos que circulam pela vizinhança.

              Eu viajei, mas sempre que há necessidade vejo-o pelo celular. Sinto saudades do meu gato.

 

Mário Feijó

30.07.23 




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

BARCO SEM RUMO

 


BARCO SEM RUMO

 

Eu não deveria ter deixado

Isto acontecer comigo

Transformei você em meta

Pensei que serias o meu caminho de paz

 

Tudo estava errado

Nossos objetivos não coincidiam

E você ficou parado em um mesmo lugar

Olhando eternamente o passado

 

Eu fui perdendo o rumo

Acreditando que apostar em você

Era minha grande missão

 

Afinal não acreditar em si mesmo

Ser um barco sem rumo

Era teu destino, acabou sendo o meu...

 

Mário Feijó

23.02.23

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

ANIMAL SELVAGEM

 


ANIMAL SELVAGEM

 

Eu não dependo de você – eu sei

Porque eu mesmo posso me abraçar

E conviver muito bem comigo e com a solidão

 

Porém o meu coração se sente partido

Quando o teu não bate junto ao meu

 

Eu até adoraria que tu me doasses flores

Então eu mesmo vou ao florista e as compro

Sei que lembrarás disto quando eu partir

Mas do que me valerá amanhã

Tuas lembranças tardias

 

E quando tu me abraças

Ou apenas sussurras que me amas

Porque nunca foi este o teu jeito de ser

O meu corpo se regozija

 

Sempre foste um animal selvagem

Uma força da natureza

Abatendo tuas caças

Para depois sair lambendo o sangue

Que escorria dos lábios e das feridas

 

Porém agora quando te vejo

Dócil ao meu lado

Penso que o amor opera mudanças

Mesmo nos mais brutos dos animais...

 

Mário Feijó

17.02.23


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

METEOROS



METEOROS

 

A vida passa tão rápido

Como se fora um piscar de olhos

Ao romper do dia vejo a luz do sol

Mandando raios de vida para o meu dia

 

E quando eu vejo o hoje

Ele já se tornou o dia de amanhã

Inesperadamente se torna o ontem

Lá no fundo da memória que precisamos resgatar

 

É como se fossemos meteoros

E o janeiro logo se torna dezembro

Enquanto perguntamos

O que fizemos neste período

 

E se não estivermos atentos

Os anos passam e nós nada fizemos

Para o nosso progresso espiritual

Apenas envelhecemos feito os meteoros no céu...

 

Mário Feijó

13.02.23





sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

A DOR

 


A DOR

 

 

Quando a dor chega

Não é muito fácil

Que ela queira ir embora

 

Terrível é a dor de cabeça

Pedra nos rins então nem se fala

Dizem que é pior que a dor de parto

 

Dor na coluna

Derruba qualquer um

Pelo desiquilíbrio que causa

Na estrutura do corpo

 

Dor nos pés, nas mãos

Geralmente é reumatismo ou artrite

Mas horrível também é a dor nos dentes

Sem esquecer a dor que é, a de uma uretrite

 

Não existe dor maior ou menor

Todas as dores precisam de atenção

Dói também a dor de amor

Que abala o coração

 

Lembre-se sempre que a nossa

Não é a maior dor do mundo

Respeite a dor do outro

Se também quiser respeito pela sua

 

Mário Feijó

10.02.23

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

E SE NÃO HOUVER AMANHÃ?

 


E SE NÃO HOUVER AMANHÃ?

 

Há poucos dias eu li na internet que “viajantes do tempo” não perceberam vida humana na Terra, a partir de 2024.

Eu não sou nada. Não sei de nada, porém faz uns três anos que “senti” que alguma coisa séria no planeta aconteceria e muitos seres humanos morreriam. Veio a pandemia e eu achei que seria nesta hora. E muita gente morreu. E todos estavam assustados.

Eu não quero ser alarmista, as morte que eu vi para o futuro do planeta eram muito mais, era um número maior que três bilhões de seres humanos. Não sei quando e se acontecerá realmente.

Então pensei “os seres humanos aprenderam a lição, a pandemia serviu de alerta”. Ganhamos uma nova chance, por isto descobriu-se a vacina tão rapidamente. Aí percebo que nada mudou. A pretendida solidariedade e empatia amorosa pelo “outro” – o tal “amai-vos uns aos outros”, não aconteceu, não vingou. Os seres humanos estão cada vez mais egoístas, avaros e cruéis uns com os outros. O amor ao próximo não vingou no coração das pessoas.

Nestes dois anos de pandemia todos empobrecemos, em todos os sentidos. O mundo inteiro empobreceu. A crueldade aflorou aqui e lá fora. Haja vista as notícias nos jornais. Nossos povos nativos estão morrendo pelo descaso e pela ganância. A guerra da Rússia contra  a Ucrânia, sem entrar muito no mérito da questão pois estão nos jornais todos os dias, é uma crueldade de irmãos contra irmãos. Até pouco tempo praticamente era uma única nação e agora vê-se o prazer em ver o outro morrer de fome e frio. Pior ainda é que tem “gente” que diz publicamente que “quando um não quer dois não brigam”, mas todos sabemos que não é uma situação tão simplória, como a desta colocação. Isto é falta de empatia. No entanto acaba sendo perdoável devido aos enormes problemas internos de nosso país que está flagelado em todos os sentidos.

E se não der tempo para consertar o mundo? E se não der tempo para socorrer os necessitados? E se não der tempo para viver o amor? O tão sonhado amor porque estamos esperando melhorias em nossa vida. Porque estamos esperando receber um dinheiro atrasado. Porque estamos esperando a aposentadoria chegar.

Então eu pergunto: e se a morte chegar antes disto? E se o mundo deixar de existir por causa de uma bomba ou um barulho ensurdecedor vindo dos céus? Ou porque um novo vírus voraz virá disposto a dizimar todos os seres humanos? Será que seremos os novos dinossauros a ser extintos? Será que a partir da extinção da raça humana aparecerá uma nova raça capaz de pensar menos em comida e mais em amor, satisfação pessoal... um novo ser mais iluminado que salve o planeta e que entenda que somos muito pequenos num universo tão grandioso.

Não sei! Mas sei que tudo é possível, que devemos ser melhores, evoluir, independentemente de o outro querer ou não, pois estaremos mais centrados na nossa evolução.

Há algum tempo tenho tentado ser coerente comigo e ser mais feliz – sozinho ou acompanhado – nos lugares onde a natureza poderia ser mais pródiga. Onde eu caminhe pela orla e não veja uma quantidade infinita de pinguins, tartarugas, peixes e outros animais marinhos mortos. Onde eu possa ir para o interior e não veja queimadas, tatus, araras, papagaios, onças e outros animais numa quase extinção por falta de mata e excesso de campo, numa terra devastada. Poucas árvores e muito bicho morto.

Pense, reflita, você pode ajudar a mudar tudo isto. Faça sua parte, o planeta é a sua casa...

 

Mário Feijó

 

01.02.23

sábado, 28 de janeiro de 2023

OLHOS TURVOS


 

OLHOS TURVOS

 

Não deveria ser assim

Opostos que se atraem

Juntam-se, amam-se

E não podem ficar juntos

 

Bate o sol sobre meu corpo

Bate o luar sobre o teu

Não enxergas o sol que me ilumina

Encantado que estás com a lua

 

E o mesmo amor que nos aproximou

Está açoitando meu corpo

Sem o teu calor

Nas minhas noites de luar e frio

 

Sinto que a escuridão da noite

Ainda turvando meus olhos

Os teus... não sei

Porém meu medo é perder o caminho!

 

Mário Feijó

28.01.23

SER OU NÃO SER...

 


SER OU NÃO SER...

 

Todos dizem “ele(a) se modificou muito”

Mas na verdade o que mudou

São os olhares ou a forma

Com que todos olham para o indivíduo...

 

A pessoa sempre foi assim

A vida dá ou não maturidade

Para que cada um faça suas escolhas

Mas nem sempre existe coragem

 

No entanto a sociedade

Acha que tem o direito de direcionar

O caminho dos indivíduos

E pessoas inseguras não se decidem

 

Muitas vezes infelizes

Mas só depende do individuo se impor

Porque o que os outros pensam

É algo que não nos pertence...

 

Mário Feijó

28.01.23

AS ESCOLHAS D’ALMA

 


                       

 

´É impossível lutar com o que a alma escolhe”

Jean Paul Sartre

 

Muitas vezes

Seguimos caminhos

Que são contestados

Por outros e rejeitados por nós

 

Assim como “existem razões

Que a própria razão desconhece”

A alma também se sente

No direito de fazer suas escolhas

 

E a vida segue colocando

Pessoas, caminhos e lugares

Onde o nosso coração parece querer ficar

E a alma parece achar sua identidade

 

Amanhã tudo pode ser diferente

E a vida dar uma guinada

Levando você a fazer novas escolhas

Mas no momento quer ficar ali, quietinha...

 

Mário Feijó

28.01.23  

 


sábado, 21 de janeiro de 2023

INGRATA

 


INGRATA

 

Foste te acostumando

A tudo o que faço por ti

Como se tudo o que eu faço

Fosse uma “obrigação”

E deixasse de perceber

O carinho em meus atos

 

Enquanto isto

Observo os pássaros

Que ao beber água

Levantam as cabeças ao céu

 

Também olho as plantas

Vejo as flores que se abrem ao sol

E o girassol que o segue

Durante todo o dia

 

É a natureza sendo grata

Por tudo o que recebe

E tu ingrata não percebes

A pureza do amor

Que eu te entreguei...

 

Mário Feijó

21.01.23   

‘SER ALGUÉM’

 


‘SER ALGUÉM’

 

Quem diria

Que eu lutei uma vida inteira

Querendo “ser alguém”

 

Era o sonho de todos

Na época dos meus pais e avós

E por mais que eu tentasse

Tornei-me um “Zé Ninguém”

 

Mas é muito melhor

Não ser ninguém na vida

Somos invisíveis

Não  há cobranças

 

Enquanto “ser alguém”

Olha lá quem fala

Olha lá quem vai lá

É o que dizem julgando...

 

Mário Feijó

21.01.23

BOA NOITE MEU BEM

 


BOA NOITE MEU BEM

 

Sou o suor que escorre

Que flui salgado

Para dentro de teus lábios

Em horas de amor

 

Mel na tua boa

Que sedenta quer mais

E mais, mais, mais

 

Enquanto o corpo suarento

Cansado deita-se

E pede mais um beijo

Boa noite, meu bem!

 

Mário Feijó

21.01.23

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

FLORES E FILHOS DO MUNDO

 


FLORES E FILHOS DO MUNDO

 

Filhos meus

Filhos teus

Filhos nossos

Filhos do mundo

 

Somos todos irmãos

“Ajudai-vos uns aos outros”

Quem não abre os braços

Não sentirá o calor do amor

 

O amor vem em ondas

Forte feito ondas do mar

Se você não estiver atento

Poderia ser derrubado por elas

 

Amar não dói

O pão é nosso todos os dias

Vamos irmanados distribuir

E matar a fome que se cala...

 

Mário Feijó

10.01.23

 

 

 

domingo, 11 de dezembro de 2022

HOJE É O MOMENTO DE SONHAR

  




HOJE É O MOMENTO DE SONHAR

 

Este é o momento de sonhar

E sabe por que este é o momento?

Porque ele é hoje

E somente o hoje é presente

 

No amanhã tudo é incerto

Mesmo que pra você o hoje

Seja um novo amanhã

Ele não confirma sua existência nele

 

Da mesma forma como o ontem

Ele já passou e se torna estático

Não dá para interferir ou muda-lo

 

Então viva intensamente o dia de hoje

Porque só o agora existe

E no agora tudo é real, só depende de você...

 

Mário Feijó

11.12.22

 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

O SILÊNCIO DO MEU CORPO

 


O SILÊNCIO DO MEU CORPO

 

Não ouço mais

As batidas do meu coração

Não sinto o sangue

Correr em minhas veias

 

Não ouço mais

O ar que em mim entrava e saia

Nos meus ouvidos não há mais

O meu sangue a pulsar

 

Meu abdome silenciou

Não há mais gases

Dentro dele a girar

Tudo em mim virou silêncio

 

Só o meu cérebro ainda trabalha

Deve ser o último a trabalhar em meu corpo

De repente ouço uma porta que abre

É você quem grita: volte!

Quero você comigo...

 

Mário Feijó

11.11.22

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

MEU ENCONTRO COM PABLO NERUDA

 


MEU ENCONTRO COM PABLO NERUDA

              

Esta noite eu estava visitando a casa de uns amigos, porque lá havia uma festa, e ao sair dela com Sandra, Bela, Ana e Dione encontrei com Pablo Neruda. Vejam só: ele morava na casa ao lado e acabara de passar por mim. Não dava para deixar passar em branco, nem calar. Chamei-o e disse:

- Eu também sou poeta. Adoro seus trabalhos.

Conversamos rapidamente e eu lhe disse que acabara de lançar um livro de poemas “histórias de amor PARA TE SEDUZIR”. Ele me disse que gostaria de possuir um exemplar. Eu falei que ia trazer.

Neruda tinha os cabelos cinza, compridos e desgrenhados. Usava uma calça preta e um casaco tipo cardigã, tricotado a mão, com uma linha bem grossa. Por sinal um lindo casaco. Fez-me lembrar a foto que tinha visto na capa de um de seus livros que eu tinha visto quando tinha 15 anos. A barba estava por fazer e, ele muito simpático, eu tinha vontade de conversar mais, no entanto sem graça se afastou porque uma voz de mulher o apressava para o interior da casa. Minhas amigas, sem entenderem nada e não dando importância ao homem, também me chamavam com urgência.

No chão do quintal de sua casa haviam marcas de muitos pés desenhados e salientados com uma cerâmica salmão clarinha que me inspiraram estes versos:

PÉS

No chão da tua casa

Eu descobri a alma de teus passos

Por onde passavas

E no chão ficavam

As marcas de teus passos

 

Era um chão à beira-mar

Onde o cheiro de maresia predominava

Eu via Neruda, em teus pés,

A imortalidade da poesia abandonada

 

No ar ficou um sorriso simpático

A beleza gris dos teus cabelos

E a elegância de um blusão de lã

Que penso tua musa tricotara

Em noites de deleite...

 

Mário Feijó

31.10.22 (3h15m da madrugada)

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O MENINO E O TEMPO

 


O MENINO E O TEMPO

 

Havia um menino na minha cidade que não tinha idade. Talvez ele já fosse um homem, não sei. Ele queria mudar o mundo. Fazer do planeta um lugar melhor para se viver. Amava os bichos e as plantas, e, tinha cuidados com o planeta Terra. Não a poluía com óleo e plásticos e vivia a plantar flores mundo afora.

No entanto o tempo interferia em seu viver. O sol e a lua faziam dele marionete.

Hoje caiu sobre a cidade uma ventania, seu peito batia mais forte. Seu sangue pulsava revolto feito as ondas do mar. Em noites de lua cheia quando ela surgia frajola no céu em sua saia de nuvens. O menino tem dores no corpo e sua alma sai pela noite em busca da luz do luar.

O sol majestoso em seu esplendor do verão transpassa sua pele e toca seus ossos como se fora um bálsamo a solidificá-los.

O menino não vive longe do mar. Sente falta do cheiro da maresia quando sobe a serra e fica um tempo por lá. Seus músculos se enrijecem e sua pele começa a secar longe do barulho das ondas.

Eu penso que este menino não é um ser deste planeta. Ele deve ser etéreo, uma entidade que a qualquer momento irá se desintegrar viajando pelo espaço em direção a uma estrela dentro de uma galáxia distante. Ele sabe como viajar pelo tempo, se deslocar pelo espaço e conquistar no universo o lugar que lhe é de direito e de lá ficar emanando luz a todos que estão perdidos neste planeta, no decorrer do tempo.

 

Mário Feijó

10.10.22  

domingo, 18 de setembro de 2022

ALARIDO DO MAR

 


ALARIDO DO MAR

 

Era primavera

E mesmo assim meu corpo

Tremia como se ainda

Inverno fora

 

O meu corpo gelado

Da cabeça aos pés tremia

E eu sentia falta do teu calor

Que me aquecia nas noites frias

 

No sul do Brasil o frio

Fazia as flores murcharem

E no centro-oeste do país

O calor lembrava alguma estufa

 

No meu quarto

Tento me aquecer

Ouvindo o vento na janela

E o alarido do mar

 

Mário Feijó

06.10.22

MEU PRIMEIRO AMOR

 


MEU PRIMEIRO AMOR

(a história de amor de José Antônio e Alzira)

 

Com uma letra ligeiramente arrastada ele datou 19.10.45, convidando sua noiva Alzira para ir, no outro dia, à Festa de Chico Cap. Dizia ele “a saudade está me maltratando e eu fiquei sabendo que amanhã à festa”.

Estava José Antônio na Fazenda Lúcia da Floresta e Alzira numa outra fazenda, e pouco podiam se ver, onde a condução era feita através de cavalo ou horas andando a pé.

A filha mais velha do Sr. José encontrou esta carta, quando ela já tinha mais de setenta anos, entre coisas que pertenceram a ele.

Descobriu-se que a noiva, Alzira, acabou morrendo um tempo depois e ele acabou encontrando um novo amor, sua mãe, D. Judite e com ela teve 16 filhos.

A tal carta, na realidade não passa de um bilhete, tanto é que começa da seguinte forma:

“Minha querida noiva Alzira, desejo que estas duas linhas te encontrem bem e com saúde, o que está me maltratando é as saudades tuas que são por demais. Queira aceitar uma saudosa lembrança deste seu amante e noivo José Antônio”.

Acaba colocando um P.S. e a convida a estar presente na festa do dia seguinte.

É encantador perceber que ele era um romântico e apaixonado e não tinha vergonha de declarar seu amor quando sabemos que os homens, ainda hoje, têm dificuldade para externar o amor que sentem.

Agora, deixar isto registrado é outra coisa e pelo visto a carta sobrevive por mais de 75 anos e não deve ter chegado às mãos de Alzira, pois estava guardada entre os pertences do falecido pai de D. Iracy.

Acredito, ainda, que D. Judite, sua mãe, o segundo amor do Sr. José Antônio não soubesse ler, caso contrário a carta não teria sobrevivido entre as relíquias dele.

 

 

Mário Feijó

18.09.22