OS BONS TEMPOS DE CRIANÇA
NA ANTIGA FLORIANÓPOLIS
Eu
lembro, com saudades, dos meus tempos de menino. Isto não faz muito tempo.
Porém o tempo anda correndo demais, feito os carros da metrópole que se tornou
a minha cidade, até bem pouco tempo uma pequenina e agradável cidade, onde as
praias, hoje famosas até fora do Brasil, eram pequenas vilas de pescadores.
Florianópolis
era assim, uma pequena e pacata cidade. Ontem no trânsito eu me senti nas ruas
de Bombaim (Índia) mesmo sem nunca ter saído daqui pra muito longe.
A
cidade de Florianópolis continua linda, mas devido ao grande número de pessoas
do Brasil e do exterior que a descobriram ela ficou terrível. Está muito
estressante andar motorizado nas ruas da cidade. E andar a pé parece ter
perdido o encanto. Não se conhece mais ninguém. As figuras típicas da cidade
desapareceram. O “Ponto Chic” não é mais o mesmo, virou Senadinho. A Felipe Schmidt,
a Conselheiro Mafra e a Tenente Silveira viraram um aglomerado de gente
desconhecida e com pressa.
A
Praça XV de Novembro, tendo em vista a preservação da figueira, com quase 300
anos, e o cuidado com os jardins tem seu ar de mistério preservado agora atrás
do Presépio criado por Franklim Cascaes e recriado pelo Peninha. Eu lembro
ainda dos tempos em que o carnaval ocorria ali ao redor da praça. Dos carros
alegóricos dos Tenentes do Diabo e da Granadeiros da Ilha e da eterna disputa
entre a Copa Lord e Protegidos da Princesa, com a Escola Filhos do Continente
só fazendo figuração, pois a disputa era sempre as duas primeiras.
Eu
lembro, ainda, de embarcar numa charrete, ali na praça, em frente à Padaria
Foguinho para ir ao Hospital de Caridade, aquela ladeira parecida conduzir ao
céu. Senão pelo medo de ir para o Hospital e morrer ou pelo cansaço, que
parecia deixar a gente sem fôlego.
Hoje
tudo pode ser romântico, mas naquela época era encantador e eu me sentia assim:
en-can-ta-do! Lembro até hoje o tom da emoção sentida.
Agora
a gente não lembra mais de coisas que possam causar tais sentimentos. O
progresso foi arrasador, acabou com aquela poesia viva que nem precisava ser
escrita. Estava ali: no mar batendo no fundo do Mercado Público, transparente e
cheio de peixinhos; na pedra dentro do mar com um cone vermelho em cima, para
os barcos não baterem, ali perto onde está a Rodoviária Rita Maria; no mar que
batia nas laterais do Mirante do Miramar, sim porque eu nunca fui lá atrás do
Miramar, parecia ser tão longe e tinha medo.
Como
era boa esta época, onde no verão, saiamos a pé para tomar banho de mar na
praia da Saudade ou para pescar siris, com fachos de borracha, feitos com pneus
velhos de carro.
Este
encantamento ainda existe, mas fugiu para algumas praias mais distantes, como
Lagoinha do Leste e Pinheira (uma na ilha outra no município de Palhoça, dentro
da Grande Florianópolis).
Florianópolis
está caótica e não vejo preocupações políticas ou sociais que melhorem este
quadro. Uma tentativa linda de resgate é o Presépio da Praça XV de Novembro e a
decoração natalina. Parabéns aos organizadores por isto.
Tenho
medo da cidade daqui a alguns anos. É assustador querer ir a uma praia (e são
tantas e tão belas como Lagoinha e Praia Brava que nem tinha ouvido falar
quando criança), estas na época eram tão nativas e agrestes, agora viraram
belos e sofisticados Balneários (Brava, Santinho, Jurerê Internacional, Lagoa
da Conceição).
Adorávamos
fazer piqueniques em Jurerê e Canasvieiras, agora a gente não consegue chegar
perto e quando chega não tem lugar para estacionar. Fazíamos piqueniques escolares
ali e também em Santo Amaro da Imperatriz (com suas águas termais maravilhosas)
hoje cheios de hotéis sofisticados e requintados.
Na
minha infância estes lugares eram mágicos como devem ter sido Santo Amaro e Caldas
para a Imperatriz Leopoldina que veio pra estas terras para se tratar.
Praticamente
ninguém sabe que o Livro O Pequeno Príncipe, conhecido mundialmente foi escrito
em Florianópolis, quando o então aviador Saint Exupéry teve que fazer uma
aterrissagem de emergência naquela praia.
Passei
pelas pontes Pedro Ivo Campos e Colombo Machado Salles, olhando para a Hercílio
Luz, com suas lágrimas de luzes pensando que a ponte chora lembrando os tempos
em que ela sozinha dava as mãos à ilha e ao continente, como se fossem crianças
desamparadas. Os filhos cresceram e ela ficou ali como um marco, uma herança,
pela qual na velhice dos pais, os filhos brigam, sem lhes darem o devido valor,
pensando somente no que têm direito.
Nada
melhor para alguns, quando as aparências apenas enganam, enquanto só a ponte
consegue externar suas lágrimas.
Mário
Feijó
21.12.13