YÉSUS
– UM CONTO DE NATAL
Eu
sentei à mesa, em um banquinho de madeira que estava ao lado dela. De repente
ouvi um clec-clec e senti que um dos pés do banco iria quebrar. Levantei e
peguei o banco e o examinei, sem perceber qualquer defeito que justificasse
minha apreensão. Sentei novamente lendo um livro com contos de natal, com a
ideia de me inspirar a escrever um também.
Novamente
ouço o mesmo barulho no banco e resolvo trocá-lo por outro, mas a situação se
repetiu com o outro banco. decidi dispensá-los e comecei a refletir sobre a
minha vida e os natais que a marcaram. Descobri que além dos que me lembravam
perdas pouca coisa de boas lembranças existiam dos natais da minha vida. Não restavam
natais felizes.
Entre
melancólico, triste e intrigado com os barulhos nos bancos ouço alguém batendo
na minha porta, como se descansassem sobre a entrada uma caixa com ferramentas.
Abro
a porta e diante de mim há um menino negro lindo, olhos verdes, dentes
branquíssimos e um sorriso franco que fazia a gente pensar em felicidade,
perguntando:
-
Há algum móvel precisando de conserto?
Eu
ia responder que não quando lembrei dos bancos. Então mandei-o entrar e olhar
os bancos.
Puxei
conversa com aquele menino querendo saber um pouco de sua vida. Ele me disse
que sua mãe era Dona Maria e seu pai José, mais conhecido como Zequinha Carpinteiro.
Senti um certo arrepio já pensando na história de Jesus. Coincidência? Não
sabia, mas fiquei intrigado perguntando o seu nome.
O
menino sem responder começou a falar de natais, de amor ao próximo e me disse
uma frase, como se tivesse conhecimento da minha vida e dos fatos recentes
havidos:
-
Nada acontece por acaso em nossas vidas. Todos nós temos um prazo para vivenciar
a experiência terrena.
Parecia
um sobrevivente. Um ser experiente e não uma criança. Parecia ler minha alma,
conhecer minhas tristezas, decepções, desesperanças...
Acrescentou
em sua fala:
-
não devemos nutrir culpas. O amor por nós mesmos, não é egoísmo porque ninguém
muda o mundo a partir dos outros, mas a partir de mudanças dentro de nós. E para
isto precisamos nos amar, viver momentos de solidão. Quem não sabe viver
consigo não saberá conviver com outros.
Perguntei
novamente:
-
Quem é você?
Ao
que ele com uma voz doce falou:
-
Yésus!
-
Yésus?!!! Perguntei intrigado, não acreditando nas semelhanças com minha
experiência cristã.
Ele
disse:
-
Sim! Sorrindo, continuando a consertar meus bancos.
-
Pronto! Seus bancos estão prontos. E caminhou em direção à porta.
Eu
perguntei:
-
Quanto lhe devo?
Ele
respondeu:
-
O senhor não me deve nada. Foi só um pequeno ajuste. Mas eu queria algo seu:
fé, esperança e amor.
-
Seja feliz e pratique sempre o amor. Continue praticando-o em sua vida, junto
com a fé e a esperança.
-
O meu pai não me deixaria lhe cobrar nada. Disse ele.
Eu
me senti tonto e emocionado fechei meus olhos por segundos. Quando os abri não
tinha mais ninguém por perto, nem nas escadas, nem embaixo do prédio. A porta
estava fechada e no chão encontrei um papel envelhecido que mais parecia um
pergaminho onde estava escrito:
AMAI-VOS
UNS AOS OUTROS, ASSIM COMO EU VOS AMEI!
Yésus
13.12.13
(século I)
FÉ
– ESPERANÇA – AMOR
Se
não fosse por este pedaço de papel eu iria pensar que tudo não passou de um
sonho.
Acredito
numa experiência inexplicável, mas passei a não duvidar mais de nada e aumentei
a dose de fé, esperança e amor em minha vida.
Mário
Feijó
13.12.13
(século XXI)