MÃES TAMBÉM SÃO HUMANAS
Passou-se o dia das mães, onde
todos escrevem enaltecendo as mulheres perfeitas que são.
Igualmente fazem isto com aqueles que morrem. Todos viram santos depois
da morte. Depois da morte enaltecem o que em vida ninguém viu.
Mães são seres humanos, mulheres imperfeitas, como é imperfeito todo
ser humano. No entanto para não dizer que falei mal da mãe dos outros, vou
falar da minha. Minha mãe durante muitos anos deixou em mim a impressão de que
não me amava. Eu não lembro de um beijo, um gesto de carinho, uma palavra
amorosa.
Eu só descobri que ela me amava quando eu me tornei adulto porque nesta
fase nos aproximamos. Eu comecei a trabalhar e ajudar dentro de casa. E nos
poucos anos que nos conhecemos melhor ela morreu. Morreu quando ia fazer 46
anos e eu tinha apenas 25. Tínhamos quebrado as barreiras da infância, mas não
foi possível nos descobrirmos melhor. Não tivemos tempo para isto. Ela foi
embora e eu fiquei com culpas.
Hoje já apaguei todas as mágoas. Tenho minha vida muito bem resolvida,
porém não posso dizer e achar que minha mãe foi perfeita. Tampouco meu pai, mas
este já é outro capítulo a ser discutido em outra crônica ou terapia...
Durante quase vinte anos eu nunca ouvi ela dizer que me amava ou fez
algum gesto para que eu acreditasse nisto. E eu falo isto por mim, mas tenho a
impressão que meus cinco irmãos também pensaram o mesmo.
Há uma grande certeza em mim: o meu amor por ela foi incondicional e eu
sofri por mais de quinze anos a sua morte. Não conseguia digeri-la. Tampouco conseguia
aceitar o fato dela ter morrido, tanto é que ainda hoje sonho e acordo pensando
que ela não morreu. Foi tudo um engano. No fundo sinto culpa, não sei de que,
mas sinto.
Esta foi a minha primeira grande perda. Depois vieram outras: primeiro
meu filho com seis anos (eu tinha trinta e três anos) e cinco meses depois meu
pai que tinha apenas 59 anos. Estas duas mortes aconteceram num período de
apenas cinco meses. Passei a entender melhor a vida e também a morte. Percebi que
uma fazia parte da outra e que não somos eternos.
Datas festivas passaram a não ser mais assim tão importantes,
principalmente quando no natal de 2011 eu sofri um acidente de carro e minha
companheira faleceu. Passei a não me envolver mais com páscoas, natais, dias
das mães... O comércio já se prepara para o dia dos namorados. Eu posso afirmar
que sou feliz mesmo órfão, viúvo e com todas as perdas sofridas porque a vida
não se faz só com alegrias. Nada é perfeito enquanto vivemos. Eu não sou. Minha
mãe não foi e o mais importante é sempre nos perdoarmos e aprender com os
bambus que se curvam nos vendavais para não se quebrarem.
Sou humano como você, como minha mãe, como todo mundo. Que aprendamos as
lições que a vida ensina e que sigamos em frente com nossas cicatrizes. O amor
nos dá forças e o perdão é um grande aliado...
Mário Feijó
14.05.13