segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ONTEM EU TE DESEJEI



ONTEM EU TE DESEJEI

Ontem eu te desejei
Tão intensamente
Tão fortemente
Que se fosses maçã
Eu te comeria as sementes
Sem medo do pecado...

E pelo mundo eu gemi
Como se fosse fera enjaulada
Eu queria da jaula fugir
E se chegasses perto
Eu te devoraria todas as carnes
Quiçá roeria os teus ossos...

Ontem eu te desejei
Mas agora o desejo foi sumindo
Eu me tornei terra árida
Que de tão árida virei sonâmbulo
Gritei em silêncio e acabei me perdendo
Fiquei dentro de mim perdido
Só porque ontem,
Ontem eu te desejei...

Mário Feijó
23.02.13

domingo, 24 de fevereiro de 2013

ENCONTRO



ENCONTRO

Eu queria te encontrar
Como se este momento
Fosse algo mágico
Pra você e pra mim

Eu queria te ver
E ficar encantado
Como se fosse descobrir
Em ti um ser mágico

E quando nos encontrássemos
Os corpos se fundissem
E as almas viajassem
Para um campo de flores

Um lugar onde todos os amores
Fossem benditos e abençoados
Onde descobríssemos muito mais que paixão
Onde os sonhos têm o perfume do eterno...

Mário Feijó
23.02.13

sábado, 23 de fevereiro de 2013

ENTARDECER NO MAR DE CAPÃO DA CANOA



ENTARDECER EM CAPÃO DA CANOA

Naquela tarde
O homem apenas se extasiou
Deus criava telas
No céu da cidade

Foi ali, na beira mar
Que a gaivota pincelava cores
Entre amarelos alaranjados
E azuis avermelhados

O homem apenas extasiado
Em um clic registrou
Os milagres que a natureza
Numa foto deixou

E o mar de Capão
Apenas marolava feliz
Por ser parte de um cenário
Em que Deus é a força motriz...

Mário Feijó
23.02.13

AQUEÇA-ME



AQUEÇA-ME!

Eu não me perderei de ti
Tampouco deixarei
Que teus passos
Alcem terras longínquas

Eu te quero perto de mim
Feito o sol diário
Que de tão próximo
Aquece meus dias

Eu te quero presente
Mesmo que ausente
Sejas nova, minguante ou crescente
Eu te quero lua nas minhas noites

Gritarei com todas as forças
Te reterei entre os dentes
Mesmo que em gritos estridentes
Surdamente não ouças meu chamado...

Mário Feijó
23.02.13

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

BRASAS NOS OLHOS



BRASAS NOS OLHOS


As cinzas dos olhos dela, em brasa se acenderam.
Mia Couto


               Havia uma paixão adormecida nos olhos daquela mulher. Sofrida andava desacreditada no amor carnal. Nada mais sentia nas poucas carnes que cobriam o seu corpo magro e sofrido. Seu último companheiro havia sido cruel. Quando ela um dia falou sobre prazer, sobre orgasmo ele lhe dera uma surra e enquanto ela ainda estava desfalecida pegara um ferro em brasas e lhe queimara o clitóris.
Uma semana depois quando saia do coma percebera que a alma havia lhe abandonado. Perdera o viço, o prazer pela vida e o prazer da carne, este com certeza ela jamais iria sentir.
Ele fora preso, mas já estava em liberdade e no primeiro encontro lhe perguntara:
- Descobriu o que é orgasmo, vadia?
Separaram-se porque ela cansara do sofrimento. Aquele episódio era só um dos terríveis momentos pelos quais passava.
Tentava refazer sua vida, mas com dedicação única e exclusiva aos filhos. Não tinha mais viço, mas os filhos eram o seu lume.
Passaram-se mais de vinte anos. Ela não mais amara. Não sentia mais nada pelos homens, nem os olhava na cara. Em alguns momentos sentia desprezo, asco por todos os homens.
Os filhos cresceram, casaram-se, foram viver suas vidas.
Josefa passara a frequentar um grupo de idosos. Tinha cinquenta anos, mas parecia ter mais de setenta. O grupo fazia viagens, dançavam, cantavam, passeavam. Ela aprendera a viver novamente. Começara a gostar de si e até a se amar. Estava permitindo o abraço de companheiras, visto que no grupo de quase quarenta pessoas só havia dois homens, maridos de companheiras do grupo.
A convivência com os amigos passou a ter um pouco mais de intimidade, cumplicidade e Josefa passou a dividir seu quarto sempre com Maria. Ela se sentia protegida quando a outra estava por perto. Quando dormiam no mesmo quarto, embora em camas separadas. Porém numa das últimas viagens que fizeram, no quarto, ao invés de duas camas de solteiro havia uma cama de casal.
À primeira vista aquilo deixou Josefa assustada, quase em pânico. Não pelo fato de dormir com a amiga, mas pelas lembranças que a situação sugeria e que não conseguia dominar.
Resolveu abrir o jogo e contar tudo pra amiga que lhe abraçou e passou a lhe dar carinho. Tudo aquilo não lhe pareceu estranho e foi acalmando. Ela começou a se sentir confortável naqueles braços e a satisfação que sentia foi reconfortante. Começou a sentir um calor agradável no corpo e “as cinzas dos olhos dela em brasa se transformaram”. Acabara de descobrir com a amiga o significado de um orgasmo que pensava jamais iria sentir.
No outro dia percebeu que não tinha vergonha do que aconteceu. Descobrira com a amiga o prazer que nenhum homem soubera lhe dar. Agora sabia que podia amar novamente. Sabia que era ainda jovem para o amor e que poderia vive-lo com quem escolhesse, com quem soubesse lhe respeitar, não importando quem fosse.

Mário Feijó
22.02.13