P. S. EU TE AMO
Todos os
dias da minha vida, desde que eu me entendo por “gente” sempre estou preocupado
com alguém.
Quando era criança vivia
preocupado com minha mãe. Ela tinha a saúde frágil e estava sempre doente. Aquilo
me dava muita insegurança. Acho que eu tinha razão, ela morreu com apenas
quarenta e seis anos, depois de uma cirurgia.
Tornei-me um adolescente e logo
me tornei adulto, com tantas responsabilidades, quase não tive tempo para ser
criança, tinha que ajudar a cuidar dos meus irmãos. Algumas vezes, diante da
dificuldade pelas quais passamos, eu nem comia direito para sobrar mais para
meus irmãos (acho que eles nunca souberam disto). Eu queria que eles
estudassem, pois ouvia dizer que só teriam melhores chances se estudassem. Não
estudaram além das primeiras séries. No entanto eu fiz faculdade, pós-graduação.
Passei a ser visto como o “rico”, o “distante”, mas eles é que se distanciaram
de mim pela incompreensão em relação aos meus objetivos na vida. Passei a ser
tratado como esnobe (penso que por despeito).
Casei, antes que minha
adolescência terminasse e meu foco de preocupação passou a ser meus filhos e um
pouco com meu pai que estava viúvo e do qual eu nunca tinha me aproximado. Ele sempre
fora distante (éramos seis filhos) e eu não era um dos preferidos... somente o
mais velho.
Tentei me aproximar daquele
homem, tão querido por todos, mas que era quase um estranho para mim. No
entanto ele também morreu antes de completar sessenta anos. Não cuidava da
saúde e teve um infarto quatro meses depois que meu filho mais moço fora
atropelado e faleceu (eu com trinta anos era pai de quatro filhos).
Nesta época eu já havia casado
pela segunda vez. Meu foco ainda era meus filhos, porém tinha agora uma nova
família. Estava sempre próximo à minha avó que já tinha mais de 90 anos (sempre
fôramos muito próximos). Já escrevi muito sobre a felicidade de conviver com D.
Felicidade. Também sempre me preocupava com meus tios... quase nunca comigo.
Depois de duas décadas meu
casamento desmoronou e não teve mais solução. Fui embora. Mudei até de estado,
não só de cidade. Tive um novo relacionamento que acabou se tornando uma união
estável por quase seis anos.
Continuava preocupado com os
filhos, agora tinha também uma filha do segundo casamento. Também começaram a
aparecer os netos... muitos. Feito ninhada de gatos (hoje já são oito). Acabei chamando
pra mim a responsabilidade na educação de três deles (o mais velho hoje com dezessete
anos voltou a morar com a mãe, depois de ter morado comigo por nove anos). As meninas
ainda moram comigo. Uma agora tem 14 anos e a outra 13.
Estou começando a aprender a me
desapegar um pouco. Nunca é tarde para cuidar um pouco de mim. Mesmo depois de
tudo isto quero deixar-me um P.S. EU TE AMO! Quem sabe a vida ainda possa me
dar uma chance de ser feliz...
Mário Feijó
03.02.13