O DRAMA DE UM MENINO ADOLESCENTE
Aos
quatro anos ele baixou as calças na frente de outras crianças para se exibir
para uma menina. Não era uma agressão sexual, era exibicionismo porque seu sexo
estava excitado. Era apenas uma descoberta. No entanto o irmão mais novo contou
a seu pai que lhe dera uma tremenda surra. Nada entendia, apenas registrou na
memória a primeira incompreensão adulta para uma situação que poderia ter sido
explicada. Não entendia o porquê, era uma exibição inocente, sem qualquer
conotação sexual acentuada, mas fora visto como tal. E seu drama começava
ali...
Aos
sete anos ele descobriu que não era um menino igual aos demais. Em pé dentro do
ônibus viu um casal sentado trocando carícias e um detalhe no rapaz chamou sua
atenção. Naquele momento ficou excitado e viu que não teria mais paz.
Tinha
medo de fazer amizades com outros meninos. Tornara-se recluso dentro de sua
própria casa. Ele era um desastre jogando futebol e era frágil demais para enfrentar
figuras mais fortes, os outros o viam como delicado e fraco.
Num
determinado dia, com apenas nove anos, sentado numa carteira escolar dupla
(eram mesa e cadeiras juntas), seu colega ao lado alisou suas pernas, ele não
vira malícia naquilo, mas ficara envergonhado e encolheu-se todo, mas a
sensação era boa, visto que em casa nunca recebera um beijo ou abraço dos pais,
quanto mais um carinho. Mas sentiu naquilo o primeiro apelo sexual, conscientemente,
de onde aquilo poderia levar. Era “pecado”, segundo a igreja, e um menino não
podia trocar carícias com outro menino, ele assim pensava.
Superado
os primeiros impulsos percebia que se apaixonava por meninas, mas sentia um “frisson”
quando olhava para um ou outro menino bonito da escola, quando tinha apenas
doze ou treze anos. E foi nesta época que ele se apaixonou por uma menina
linda, chamada Maria da Graça. No entanto Maria da Graça era apaixonada pelo
menino mais bonito do colégio – Jorge. As meninas ficavam ao seu redor feito
abelhas em flores cheias de néctar. Ele sentia inveja, ciúmes, ou sei lá o quê
e quando percebeu estava apaixonado pelo garoto também. Era tudo muito confuso,
neste início de adolescência. Era tudo platônico, virginal, porém algo que
torturava a mente do menino.
Sexualmente,
nada acontecia para ele, seja com meninas ou meninos. Provavelmente não era o
mesmo com os outros que viviam pelos cantos se agarrando e beijando. Mas, ele
sentia um grande complexo por ser pobre e também por se achar feio e magro,
ingredientes muito fortes para impedi-lo de tomar qualquer iniciativa amorosa. Para
não ser marginalizado ele se tornara o melhor aluno da classe. Terminou o
primeiro grau (na época ginásio) como o aluno com melhor média escolar entre as
três turmas: 9,4 na média geral entre os 120 alunos das três turmas.
Dos
treze aos vinte anos nada melhorou. Tudo piorava a cada dia. Chegara a pensar
em suicídio muitas vezes. Porém, ele nunca fora corajoso, era um covarde, em
sua concepção. Hoje sabemos que muitos adolescentes passam por isto e, alguns
levam a cabo esta ideia. Há uma crise de identidade muito forte e alguns não têm
coragem para “sair do armário” ou para conversar com alguém de confiança.
As
primeiras experiências com o sexo oposto foram catastróficas. Tinha medo de
doenças sexualmente transmissíveis e não conseguia se excitar com qualquer menina.
Houve o caso de uma que o levou para o mato, atrás de umas pedras, na beira da
praia. Pisara em merdas no escuro e o fedor, unido ao pavor o fizera fugir do
lugar, sem ao menos tentar qualquer coisa.
Houve
uma ocasião em que ele fora a um “baile” porque adorava dançar, mas a maioria
não estava ali pra isto. Agarravam-se e às vezes nem saiam do lugar. Observava que, a maioria das meninas,
grudavam-se aos rapazes, feito trepadeiras, e, quando a música parava o rapaz
tentava esconder a excitação e a calça molhada. Uma dessas meninas ao ser
tirada por ele pra dançar grudou-se de tal forma, como se fora um velcro que gruda
em um tecido e ao ser puxado faz até um barulho “crarrrrcc”. Ele não sabia
direito o que fazer, pois não conseguia dançar direito nem ficar excitado para
atender às necessidades daquela garota. Será que se fosse com um menino a coisa
seria diferente... Na época era inadmissível tal hipótese, eram outros tempos. Hoje
os adolescente são descolados, e, a maioria tira de letra a situação. Porém ele
já tinha dezoito anos e era virgem. Haviam cobranças na família e entre os
colegas e conhecidos. Tinha gente comentando... ele estava desesperado com sua
virgindade. Tinha gente olhando atravessado e rindo do seu jeito delicado.
De
repente sua irmã viera da escola com duas amigas, Maria de Fátima e Terezinha. Ambas
ficaram interessadas por ele, mas os beijos de Maria de Fátima tinham sabor de
fruta madura. Foram poucos os beijos que trocaram, mas até hoje ele lembra como
se fosse jabuticaba estourando na boca. E, Terezinha mais descolada, começou a
oferecer “vantagens”, tudo silenciosamente, mas ele começou a experimentar os
prazeres do sexo, embaixo de uma parreira de uvas, nas noites em que ia visitá-la.
Seus beijos não tinham o sabor de fruta madura, ele sentia falta dos beijos de
Maria de Fátima, mas ela desaparecera por completo de sua vida.
Não
ficaram por aí suas aventuras sexuais com o sexo oposto, porém ele logo caíra
na armadilha de uma outra que aparecera, sorrateiramente, em sua vida. No entanto,
havia alguns rapazes que só porque eram bonitos, atormentavam a sua mente platonicamente.
Era uma coisa gostosa e ao mesmo tempo dolorida porque ele sabia que nada iria
acontecer. Ele não permitiria.
Teve
alguns filhos e quando percebeu que não era feliz saiu do casamento. Apaixonara-se
por uma linda garota e fora feliz com ela durante muitos anos. Porém, o tempo
desgastou a relação e ele desta vez mudou de cidade. Estava decidido a ficar
só, porém mais uma mulher entrou em sua vida e ficara por alguns anos até
morrer em um acidente.
Estava
sozinho e começou a pensar na possibilidade de vivenciar sua bissexualidade e
permitir experimentar viver, agora experiências com pessoas do mesmo sexo. Ele não
queria viver sexo por sexo. Queria amar e ser amado. Até que descobriu alguém
que tinha o perfil de homem que chamava sua atenção. No inicio tudo foi muito
complicado, principalmente para a família do outro e ele estava feliz pelo peso
que tinha tirado quando decidiu sair do armário, faz-se respeitar e é respeitado
por amigos e parentes. Afinal os tempos são outros.
Passaram
a viver esta história, de forma muito intensa e, pelo que me consta já estão
juntos há quase dez anos. Se serão “felizes para sempre” só o tempo dirá, mas
pelo menos, acredito eu, é a proposta de ambos.
Mário
Feijó
Baseado
em fatos reais
Sem
data