UMA
ESMOLINHA POR FAVOR!
Quando eu era criança pensava em ser dono de uma “vendinha”,
tipo “secos e molhados”.
Para sobreviver já vendi de tudo, desde laranjas a
pedacinhos de coco. Artesato de esponjas e roupas.
Por não saber qual profissão seguir fui deixando a
vida me levar e acabei sendo “administrador de empresas”, formado na Universidade
Federal. Não sei se aprendi a administrar alguma coisa porque sempre me deixei
levar pelo coração.
Tornei-me um adulto e sempre me virei, mas mesmo
empregado acabei vendendo roupas. Rendeu durante muito tempo, porém eu estava
me sentindo um mascate, batendo de porta em porta.
Um dia trabalhando na Universidade, aquela onde eu
havia me formado, geralmente, nas folgas ou à noite, feriados e finais de
semana eu saia para vender, mas por não ter ainda celular, na época, cometi o
que considero o maior fiasco da minha vida. Uma família inteira encomendou
roupas comigo e, eu achando que a data era outra não levei as roupas e cheguei
na casa depois do casamento. Foram todos ao evento com as roupas que tinham em
casa. Até hoje procuro um buraco pra me esconder. Desisti da venda de roupas,
por este e outros motivos que não vem ao caso.
Por problemas de saúde, acabei me aposentando na
Universidade Federal de Santa Catarina e comecei a pintar e levar mais a sério
minha escrita, visto que na Universidade eu já trabalhava com revisão de teses
e trabalhos científicos. Em 1987 tive publicado meu primeiro livro de poemas
chamado “ENCONTROS E EMOÇÕES”, meu primeiro livro solo. Mas também já publicava
no Jornal Universitário e jornais locais.
Sempre vendi tudo tão facilmente que para não perder
o pique ainda hoje trabalho vendendo produtos Natura – a casa de perfumaria do
Brasil. Porém quando se trata de vender meus livros sinto como se estivesse
pedindo esmolas.
Estamos em um país, onde a arte e a cultura não são
valorizados nem reconhecidos como deveriam. Gastamos muito dinheiro para fazer
um livro, sem incentivo, sem patrocínio e algumas pessoas dizem: “você não vai
me dar um livro!”. Os órgãos públicos não investem em talentos locais
preferindo pagar fortunas a talentos consagrados.
Dos quadros e telas, que já pintei, acabei desistindo
e parti para o artesanato, porém acontece o mesmo. Não importa se o valor é
pequeno ou grande, a reação das pessoas é igual, todo mundo acha que é fácil e
que não gastamos nada com material com o qual trabalhamos.
Hoje um livro com recursos próprios, mesmo numa
pequena quantidade só será vendido em dois ou três anos e temos que tirar do
bolso o montante integral para confeccioná-lo em trinta dias.
Portanto quando ofereço um livro a alguém parece que
sou uma daquelas pessoas na rua que diz: uma esmolinha, por favor!
Mário Feijó
19.08.22
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