terça-feira, 19 de novembro de 2024

LUZ E MÚSICA









LUZ E MÚSICA

 

Eu sou a luz

Transmutada pelo girassol

Que se espalha na música

Para dentro de outro ser

 

Eu sou o som

De pianos, arpas e violinos

Que corre nas tuas veias

E bate no teu coração

 

Eu sou a luz do sol

Que se reflete nas noites de luar

E que ilumina todos os caminhos

Por onde você trilhar

 

Eu sou a luz

Eu sou a música

Eu sou a vida

 

Mário R. Feijó

 

19.11.24


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

BORBOLETA NA CHUVA




 

BORBOLETA NA CHUVA

 

Quando cai a chuva

As borboletas recolhem suas asas

E com muita sabedoria

Tentam proteger sua beleza

 

E logo quando volta o sol

Elas saem em festa

Visitando todas as flores

Pousando em todos os lugares

 

Borboletas azuis, amarelas, brancas

As cores do arco-íris

Reflexo da chuva

Sob a energia do sol

 

E elas correm pelas matas

Visitando as matas e os campos

Pousando também

Nas flores dos jardins da cidade molhada

 

Mário Feijó

10.10.24

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O POETA E A DOR DOS OUTROS

 


O POETA E A DOR DOS OUTROS

 

O poeta é aquele

que se apossa da dor dos outros,

as transforma em sua

para depois devolver ao outro

em poemas

e este outro

vendo a poesia sofre menos

 

MÁRIO FEIJÓ

09.09.24

sábado, 31 de agosto de 2024

VAIDADE




Talvez eu seja o teu maior delírio

E só tenha entrado em tua vida,

Para bagunçar.


Talvez eu seja a verdade

Anunciada pela boca dos teus amigos.

Por ter quebrado promessas

E ter voado mundo afora,

Tal como um pássaro,

Que desvia do bando

E se arrisca a escrever uma nova história.


Talvez eu não seja o único errado.

Afinal,

A vontade nunca foi uma prioridade.

E até mesmo grandes paixões

Bebem doses exageradas de vaidade.


E eu reconheço,

As vezes onde te tive

Apenas como uma vaidade.

E bem sei que tu,

Também me abocanhou

Quando teu ego sentiu que deveria.

E está tudo bem,

Não há crimes cometidos aqui.


Houve vontade,

Mas nunca prioridade.

Vontade e vaidade,

Em doses ardentes,

Que colidiram em caminhos opostos,

Mas agora retornam ao eixo.

Tu com a tua vida

E eu com a minha.


ANDERSON MANOEL

PARA MÁRIO FEIJÓ

SILÊNCIOS


 

SILÊNCIOS


Tudo entre nós 

Sempre foi silêncio

Foram silêncios de um amor contido e arrebatador

Silêncios das promessas

Pensadas e não ditas

Das vontades de dizer

E por medo da rejeição 

Ou até mesmo do arrebatamento que entre nós havia


E tudo ficou guardado

Dentro da caixinha dos silêncios

Que um dia pode explodir em beijos, abraços e infinitas horas de amor

Porém um Silêncio grato

Pelo carinho e respeito mútuos 

E por sabermos que esta não era a nossa hora

Aí só nos restou partir

E depois da partida encontrar

Uma caixinha fechada

Cujos rótulo era: "silêncios"...



__________________

24.08.24

18h35m

sábado, 3 de agosto de 2024

MAR BRAVIO

 


MAR BRAVIO

 

Muitas vezes na vida o que temos diante de nós é o caos. Pensamos até que caímos do lindo iate, onde apenas fazíamos um passeio de férias, e caímos no mar bravio e silencioso. Nestas horas, nos bastaria uma mão estendida que seria como um bote salvador. Só que acabamos nos debatendo, debatendo, debatendo e não aparece aquele herói tão esperado. É a vida... e vamos afundando, afundando, afundando, porém, percebemos que ir para o fundo do mar, daquele mar, não é a morte.

Nesta hora exata, antes de bater no fundo, acordamos. Não é um acordar de um sonho ou de um pesadelo, é um acordar para a vida. Não existem heróis na nossa vida. O que existe é a vontade de seguir em frente, fazendo o que de melhor podemos fazer.

Nesta hora também tomamos consciência de que o nosso herói somos nós mesmos. Não podemos sentar e ficar lamentando. Temos que dar fortes braçadas e vencer o mar bravio. Só assim atingimos nossas metas.

Desta forma vemos que nós somos seres solitários. Não é egoísmo pensar no nosso bem estar, em primeiro lugar, pois mesmo que você seja sempre um ser bondoso e altruísta, que sempre pense primeiro nos outros e depois em si, precisa estar forte para poder fazê-lo. E quando penso nisto, vejo que as mães, geralmente, são assim. Elas pensam primeiro nos filhos e depois em si. Salvo raras exceções é isto o que acontece. Eu também me incluo um pouco nesta característica, apesar de não ser mãe. Porém também penso primeiro nos outros, como se todo mundo fosse meu filho, e depois em mim. Mas a idade está me obrigando a pensar um pouco mais em mim. E isto está gerando um distanciamento daqueles que não recebem mais vantagens... Tenho que olhar pra trás e rir... sou um bobo mesmo.

Então antes que eu pareça estar sendo cínico e cruel com quem me rodeia estou praticando cuidar de mim. E como diz a música: “ando devagar, porque já tive pressa”. E a pressa não nos leva a lugar nenhum. Não diante da vida porque a vida tem seu ritmo próprio e nós não podemos mudar isto.

Somos energia e como tal devemos nos deixar levar como se fosse uma onda no mar. E, nos dias de vento mais forte ser uma grande onda, ou nos dias de calma ser uma onda branda num mar que ser torna plácido e sereno.

 

Mário Feijó

02.08.24  




sexta-feira, 26 de julho de 2024

POR DESAMOR: TODA UMA DOR

 


POR DESAMOR: TODA A DOR

 

Por quanto tempo mais, os meninos e meninas morrem e morrerão por falta de amor de seus pais?

Sim! Todos nascemos meninos e meninas, porém é incontestável que nossa mente faz escolhas, que as meninas e os meninos gostariam que fosse a mesma do seu gênero ao nascer, mas não é assim. A ciência ainda não sabe por que isto não acontece e no meio do caminho o menino se descobre menina, ou, a menina se descobre menina. Ou para ser mais brando ambos se descobrem gostando de pessoas do seu sexo e não do sexo oposto. Isto não é culpa de ninguém, nem de exemplos, de religião ou de “sem vergonhice” como acusam muitos.

Ai pelo desespero, pela falta de acolhimento, de compreensão muitos se perdem pela vida, no meio do caminho.

A homossexualidade sempre existiu, no entanto os meios de comunicação modernos a expôs. E, isto aconteceu de forma abrupta. Simples para uns. Cruel para outros. E quem não tem um psicológico forte, ou não tem apoio da família despenca em um precipício.

Família sem estrutura e que não ama seus filhos como eles são acabam empurrando-os para a prostituição, para as drogas ou até mesmo para a morte.

Socialmente, as pessoas chegam a ”aceitar” casais do mesmo sexo, porém volta e meia sai uma piadinha pelas costas. O relacionamento entre dois homens ou entre duas mulheres despontam em novelas e filmes, muito sutilmente, mas ainda é algo visto como “anormal”. Basta alguém ver dois homens ou duas mulheres se beijando para virar notícia. Ainda ontem li que Chandely Braz e Alice Carvalho, atriz da novela “Renascer” foram vistas aos beijos em tal lugar. Se fosse um casal hetero não teria virado notícia. Então chama a atenção e depois massacram.

Está na hora de deixarmos que o amor floresça, que as famílias abram espaço para apoiar e demonstrar amor incondicional por seus filhos. Temos o exemplo de D. Déa Lucia, mãe de Paulo Gustavo – o eterno Minha Mãe é uma Peça”. Conheço na internet Flavia Arruda que descobriu que seus três filhos eram gays (uma menina e dois rapazes) e nem por isto deixou de amá-los e propaga isto em todas as suas redes. Mas, ainda, é incompreensível que uma mãe fira seu filho com uma arma e depois o humilhe e pressione ao ponto de, sem saída, o rapaz se suicidar (caso lido ontem na internet e que nem vou dar nomes). É impressionante o desamor neste caso. Sem contar a dor gerada.

Há cada vez mais transparência nas relações e a sociedade tem que se adaptar aos novos tempos. Não que isto não acontecesse antes, acontecia, mas não tínhamos a urgência da internet em divulgar todos os fatos.

Ainda ontem li que Ralf Schumacher, ex-automobilista alemão, de 49 anos assumiu sua homossexualidade publicamente, sendo apoiado pelo filho que lhe desejou felicidade. Muitos esperam a maturidade chegar para se aceitarem como sempre foram, mas que não podiam mostrar para a sociedade porque não tinham estrutura para o fazer.

Homossexualidade não acontece somente com os seres humanos. Já foi demonstrado pela ciência que os golfinhos, macacos, cavalos e muitos outros bichos também a praticam. Então não é uma questão de querer ou de ser descolado é algo intrínseco ao ser e só diz respeito a ele próprio.

Deus não errou!

Não é falta de caráter!

Não é doença!

Temos que aprender que entre “dois” seres há infinitas possibilidades e opções. Entendam como quiserem.

Vamos parar de ser hipócritas e admitir que lá no fundo muita gente se esconde sob a forma de casal e sai pelo mundo, fazendo por baixo dos panos, a procurar quem lhe complete, por medo de ser excluído.

 

MÁRIO R. FEIJÓ

24.07.24          

  

terça-feira, 23 de julho de 2024

O CHEIRO DOS GIRASSÓIS

 


O CHEIRO DOS GIRASSÓIS

 

Era uma estrada escura. Sem luzes ficava muito mais assustadora. Eu me sentia perdido. Não sabia usar as modernas tecnologias disponíveis que os jovens tão bem entendem. Nós que já não temos mais nada desta juventude temos medo de todos os botões, como se fossemos acionar uma bomba atômica. Foi nesta hora numa estrada escura do interior do Paraná que eu sozinho dirigindo experimentei o primeiro sintoma de pânico. Não sabia para onde seguir...

Parei o carro e o desliguei. Não havia luzes, não havia lua no céu, não havia casas, e, não haviam carros na estrada e o céu completamente encoberto por uma espessa neblina não me deixava ver as estrelas. Talvez elas pudessem me orientar, embora eu também não entendesse nada de cosmologia ou orientação espacial.

Ao desligar o carro todas as luzes que eu imaginava existir desapareceram. Eu não conseguia ver meu próprio corpo. Estiquei a mão e não a via. Nesta hora eu me senti um fantasma. Só existia em mim pensamentos. O pânico se instalou. Eu gritava e chorava e para ter a sensação de que estava vivo comecei a respirar fundo e com o celular tentei ligar pra pessoa, cujo endereço eu estava indo, no interior de São Paulo, ou seja, Oeste Paulista.

O local onde eu estava parado era uma rodovia que passava fora de qualquer cidade, e eu tinha certeza que já tinha passado por ali, pelo menos umas três vezes, por isto parei.

Conversando com a pessoa que foi tentando me acalmar e dar indicações de onde eu estava e, qual o caminho eu deveria seguir.

Liguei o carro novamente e fui em frente. O trajeto que eu estava fazendo era de Florianópolis para Presidente Prudente, e de lá para o pequeno lugarejo chamado Emilianópolis, uma pequena cidade com 2.300 habitantes. Eu deveria fazer o trajeto em doze horas, fiz em dezenove horas. É que eu ficava circulando pelo mesmo lugar. Tinha visto uns tonéis de inox, da Cocamar que armazenam óleo, talvez de girassóis ou soja. Eu deveria chegar meia noite, cheguei sete e trinta da manhã.

Aquela escuridão me fez reviver minha vida por inteiro, com lembranças de uma pequena casa, pai, mãe e seis filhos. Não era uma boa lembrança. Não havia lirismo naquela infância. Lá eu não aprendi a amar. Tinha medo de tudo. Eu me sentia fraco e covarde para lutar contra tudo e contra todos. E o medo daqueles tempos onde o carrasco não era mais meu pai, nem os colegas de escola, nem as pessoas na rua. O carrasco agora era eu e eu tinha que vencer este carrasco que novamente me assombrava. O medo tinha crescido e agora se transformava em pânico.

Enquanto isto eu pensava:

- Onde estão as luzes da cidade? Onde elas se esconderam? Onde estão as cidades do meu caminho?

Sumiram todas! Sumiram as pessoas, sumiram os bichos, até eu sumi na escuridão.

Estou envelhecendo e vagarosamente sumiram: primeiro meus pais (já falecidos). Sumiram meus irmãos que foram viver suas vidas com suas famílias. Sumiram os filhos que foram casando, tendo filhos, separando e vivendo seus próprios problemas. Sumiram os amigos, que assim como eu, também foram se perdendo uns dos outros, outros se descobrindo pelas redes sociais, porém cada um vivendo suas vidas e não tendo tempo para nos dar um pouco de seus tempos, nem para se fazerem presentes na nossa história. Não há tempo para sentar e ficar lamentando. Todos temos que seguir em frente. O mundo atual é muito ágil e ninguém mais fica preso, nem ao seu passado, nem ao passado do outro. Donde se conclui que não há espaço para deixar o pânico nos atormentar. Temos que seguir em frente, colocar uma máscara sorridente e viver a vida que temos.

Finalmente as luzes da cidade aparecem. Hoje a lua está cheia e mesmo à noite, em meio aos girassóis, que ainda estão naquela estrada eu sei para onde ir, e, os cheiros das flores, agora, são o antídoto para a solidão e o pânico que me atormentava.

Agora descobri a estrada, sei para onde ir, e sei o que me espera no final deste caminho, onde moram os girassóis.

 

Mário Feijó

23.07.24   

segunda-feira, 15 de julho de 2024

ROTINA QUE VIRA OBRIGAÇÃO

 


ROTINA QUE VIRA OBRIGAÇÃO

 

Sou um romântico

E sempre gostei do fato

De ter alguém pra amar

E alguém que me ame

 

É algo que faz bem a mim

É um momento onde eu

Quero fazer tudo pelo outro

 

E me dou por inteiro

Se a pessoa pensa em algo

Eu já estou realizando

E a pessoa nem percebe que eu fiz

 

Esta espontaneidade me deixa em desvantagem

Realizo sonhos e não recebo gratidão

E o ser “amado” fica achando

Que tudo é minha obrigação...

 

Mário Feijó

15.07.24




CASOS DE AMOR

 


CASOS DE AMOR

 

Quando você encontrar o amor

Cuide para que ele não vá embora

Cuide para que ele não mingue

Cuide para que ele não morra aos poucos

 

Não banalize o amor

Dê valor à pessoa amada

Não cale! Se preciso for grite

Grite eu te amo, se for isto que você sente

 

Há sempre alguém à espreita

Querendo o amor que você tem

Porque quando você menos espera

Vem alguém e leva seu amor embora

 

Já vi muitos casos de amor

Que foram se apagando

E quando menos se esperava

O amor virou indiferença...

 

Mário Feijó

13.07.24

 

 


MUNDO ENCANTADO

 




MUNDO ENCANTADO

 

        Eu que pensei que vivia num muno encantado, onde ninguém mente, onde a verdade impera.

        Achei que aquela “perereca” (ou sapo, sei lá, não sei muito a diferença entre um e outro) fosse um bicho que futuramente se transformaria. Nada de futuro havia naquela situação e do “futuramente” só mentiras restaram.

        Sempre fui uma criança sonhadora, daquelas que transforma lixo em arte. Daquelas que cantam para alegrar o dia e a vida. Daquelas que parou de fazer arte, depois que cresceu, porque ninguém lhe dava valor. Mas é isto o que acontece com todos os artistas, salvo raríssimas exceções.

        No entanto, percebo que, ainda, sou um sonhador. Ainda me encanto pela vida, mesmo depois de tantas decepções. Parei com a arte, só não parei de escrever porque no dia que eu parar de fazer isto, pode ter certeza, deixei de pensar. Eu quero transformar o mundo. Cansei de catar o lixo dos outros, lixo de gente burra e ignorante. Quero me transformar! Deixar de ser larva e voar: é o meu sonho de borboleta.

Eu queria acreditar nas pessoas, porém, elas mentem deslavadamente com a maior “cara de pau”. É que eu sou sensível e sensitivo. Quando não sinto, o vento me conta. Mas eu pergunto: por que mentir? Há necessidade disto? Será que suas consciências não pesam?

Ah! Eu já tive muitos sonhos. Foram todos embora. Não sei se a idade me transformou em cético ou cínico. Eu parei de confiar. Estou  deixando a vida me levar. No entanto ainda acredito nela e que a vida que tenho pela frente não será decepcionante.

Ah! Minhas princesas, meus príncipes, meus sapos e pererecas coaxantes na lagoa rasa, de água cristalina, que reflete o céu azul, parecendo tão distante daqui.

Ainda acredito na natureza e nas forças divinas que nos regem. Acredito no meu anjo da guarda. Acredito na felicidade que mora em mim e que precisa de tão pouco para sobreviver.

Porém, apesar de tantos seres estranhos neste planeta, ainda acredito em “meu mundo encantado” e vou apostar que o planeta será um lugar para se viver.

Acho que voltei a sonhar! Quem é vivo não perde esta mania...

 

Mário Feijó

15.07.24     

quarta-feira, 3 de julho de 2024

MEDOS

 


MEDOS

 

Eu tive tantos medos que sorria para não chorar. E quando eu sorria era um riso amarelo, falso, medroso.

Eu tinha medo de mim, de ser quem eu era e me escondia em máscaras.

Eu tinha medo do escuro. Tinha medo dos mortos, medo dos vivos e só tinha confiança perto de crianças e idosos e, ganhava sorrisos deles. Até hoje sou assim, crianças desconhecidas me encaram e sorriem.

Nunca tive medo dos bichos, com raras exceções. Tinha medo de cobras e nojo de sapos. Talvez até porque sabia que nenhum deles se transformaria num príncipe. Se restasse alguma dúvida talvez eu até gostasse porque era sonhador.

E tinha muitos outros medos. Por exemplo tinha medo de ficar só. Se continuasse assim não poderia ficar velho nunca, porque este é o destino de todos os velhos. Porém nesta semana eu descobri que me tornei velho (porque idoso eu já sabia que era). E, envelhecer é estar só, mesmo quando amamos alguém ou temos alguém por perto.

A velhice é um eterno aprendizado de solidão (como se durasse muito, pois quando realmente envelhecemos já temos pouco pela frente) e quem não aprende com a solidão se deprime e abre as portas para as doenças. Hoje mesmo ouvi uma psicóloga dizendo que depressão é excesso de passado, e os velhos têm muito passado e pouco futuro.

Neste momento eu tenho medo de mim. Sei que não viverei mais muito, não mais do que já vivi porque se isto acontecesse eu seria o homem contemporâneo mais velho do mundo.

Tenho medo da senilidade, da imobilidade, da dependência, das dores que me atormentam, da falta de recursos para me cuidar e tantos outros que estão brotando devagar.

Vejam bem, nenhum dos meus medos é uma critica política ou social, uma acusação para alguém, seja este alguém parente ou amigo.

Meus medos antigamente ficavam enjaulados e me obedeciam. Agora quebraram todas as jaulas de onde estavam aprisionados e passaram a me atormentar. Um deles anda me ameaçando com “pânico”. Certamente não darei espaço para que se crie.

Quando eu era criança tinha verdadeiro pavor de ficar sozinho dentro de casa. Ouvia barulhos em todo canto, achava que eram fantasmas. Agora, se eles realmente eram fantasmas já devem ter percebido que não me assustam porque seus barulhos não mais me assustam. Meus medos agora são outros, nem tão ingênuos e infantis. Aprendi que fantasmas não mais me assustam porque os seres humanos se tornaram mais perigosos que meus fantasmas de criança.

 

Mário Feijó (03.07.24)          

quinta-feira, 27 de junho de 2024

NA PRIMEIRA NOITE

 


 

Na primeira noite

Você vira pro lado

E sente a cama vazia

Não encontra ali

A pessoa que te abraçava

 

Na primeira noite

Você se sente longe

Não sabe mais

Em que cidade está

Não sabe mais qual é a cama

Que no outro dia aquecia seu corpo

 

Na primeira noite sozinho

Você descobre a solidão

Descobre que a cama é muito maior

Muito mais fria e abraça-se aos travesseiros

 

Na primeira noite longe

Você gostaria de estar sempre perto

Você sente sua cama um deserto

E descobre que mesmo assim a vida continua

Com seu amor ao seu lado

E você tem que continuar

Porque a vida continua

E para viver você tem que se reinventar...

 

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27.06.24   




quarta-feira, 19 de junho de 2024

BENDITOS SEJAM OS FILHOS QUE AMAM SEUS GENITORES

 


BENDITOS SEJAM OS FILHOS QUE AMAM SEUS GENITORES

 

               Raros são os filhos que além das suas mães, amam também seus pais. Ou que, no geral amam seus pais e mães.

               Alguns têm uma relação maior somente com suas mães, porém raros são os que amam o pai.

               Parece ser mais fácil, hoje em dia, encontrar filhos que amam os pais de amigos, ou um tio, e a grande maioria, atualmente, ainda gostam dos avós. Na minha época, ou para não ser tão antigo, quando eu era criança, adorava meus avós. E, tinha uma grande diferença, principalmente, com meu pai, mas graças a Deus eu lhe perdoei e me perdoei antes de ele morrer, ainda jovem, para estes tempos, com 59 anos. Porém parecia bem mais velho. Mas eram outros tempos.

               É uma coisa que não tem muita explicação, esta antipatia. Parece que a pessoa nasceu no lar errado e, não raro há os que pensam ser adotados. Aconteceu comigo. Eu não conseguia me sentir amado e me sentia o bebê que foi trocado na maternidade ou que não tinha sido um filho desejado.

               Meus avós me amavam intensamente, meus tios me adoravam e meus pais pareciam me odiar. Mas, também, éramos seis. E eu o mais velho, tendo que assumir a responsabilidade de cuidar dos demais, visto que minha mãe estava sempre doente. Não é à toa que morreu com 46 anos.

Cresci com a sensação de rejeição, porém quando tornei-me adulto consegui mudar isto e me aproximar deles. Penso que o problema era muito mais eu, do que “eles”. Porém isto durou pouco. Eles morreram cedo.

Então tornei-me pai com 22 anos, foi a coisa mais gostosa e assustadora do mundo. Eu não estava preparado para ser responsável, de novo, por crianças. Não tive tempo para ser uma e quando tentava ser adolescente tive que ser “adulto” forçosamente. Eu amei intensamente meus filhos e sentia que eles me amavam. Tornaram-se adultos e me descartaram completamente. Eu poderia ter feito isto quando fui forçado a ser pai e não fiz pelo senso de responsabilidade e amor, porém eles me abortaram da vida deles, sem achar que isto era um crime. Tenho a sensação de que não existo para eles. Passo aniversários e natais sem nem uma mensagem ou um “oi” nas redes sociais. Todos estão muito ocupados com seus problemas.

Sempre acreditei que meus filhos seriam meus amigos, quando se tornassem adultos, porém hoje não passam de conhecidos urbanos ou de redes sociais. Ah! Alguns nem nas redes sociais me aceitam... e com isto, meus netos também estão distantes.

Há em meu coração um amor por eles que ultrapassa o amor de pai, porém eu percebi que o amor deles por mim se limitava a valores financeiros. E, quando eu me divorciei das mães deles, eles se divorciaram de mim. Vejo nos filhos dos outros um amor e admiração, por mim, que os meus filhos não têm.  

Porém, eu vejo que isto não acontece só comigo. Vejo em outros pais a mesma queixa. Há casos de pais milionários que preferem deixar fortunas para seus pets ou instituições de caridade do que deixá-las para seus filhos, que antes eu achava um absurdo, mas hoje já não penso assim. Também já vi o caso de muitos filhos que matam seus pais por dinheiro... aí já acho que é o fim do mundo e não tenho mais o que dizer...

No entanto meu escrever não é uma queixa, é sim uma constatação e um texto que deveria servir de reflexão para todos os seres humanos. Vamos em frente que todos têm problemas e somente a gente sabe onde o sapato aperta.

 

Mário Feijó

17.06.24

     

quinta-feira, 13 de junho de 2024

CONVERSA COM SANTO ANTÔNIO

 



 

               Olá Santo Antônio!

               Por quê será que algumas pessoas te pedem tanto um amor e quando o tem não cuidam para mantê-lo sempre vivo?

               Outros emburrecem ou se tornam submissos, deixando de ser o que eram, para serem o que o outro quer.

               Quando eu era muito jovem tive uma prima que se transformou de amiga numa desconhecida porque o noivo tinha ciúmes dela. Mais tarde quando envelheci, uma amiga com mais de 70 anos arrumou um namorado e passou por mim como se não me conhecesse. O cara tinha ciúmes de mim e achava que tínhamos um caso. Se fosse assim por que ela iria arrumar um namorado? Mas é aí que entra a história que te contei do emburrecimento.

               Outro dia a pessoa que diz que me ama passou com o carro por cima do meu gato e dias depois o gato morreu, de desilusão ou por desamor, penso eu.

               Ah! Santo Antônio, como se não bastasse enchi a casa de plantas e todas morreram secas ou afogadas, pela má vontade. Penso até que as que secaram morreram de tanta mágoa ou por terem sido ignoradas.

               Querido Santo Antônio será que pessoas também secam por desamor? Acho que estou secando como aquelas plantas. Bem sei que não podemos devolver os amores que pedimos por terem vindo com defeitos que não conhecemos, ou, por estarem em mundos paralelos, que não nos deixam entrar em seus mundos, que não abrem suas portas  ou, até mesmo, quando abrem é para fazer viagens por mundos que sabemos que não vão dar em nada. As pessoas podem até ganhar na loteria ou serem sorteadas em alguma coisa, mas isto não acontece todos os dias, e nem com todas as pessoas.

Tenho medo de pessoas que querem ser ricas e se tornam pobres. Pessoas que não enxergam a beleza do mundo, a beleza do pôr-do-sol ou perderam a alegria de ver flores se abrindo.

Ah! Santo Antônio como é difícil viver neste mundo com gente tão complexa. E já que estamos tão íntimos, conta pra mim como você conseguiu superar tudo isto e ser santo? Eu confesso que até já fui anjo de algumas pessoas, mas para ser santo num planeta destes, a pessoa precisa de muita vocação... Desculpe-me por ser abusado e falar tudo isto, mas como hoje é o seu dia. Vai que leia minha carta e consiga me orientar sobre o que fazer. Confesso que estou perdido Santo Antônio.

 

Mário Feijó

13.06.24       

 P.S. que a fé em Santo Antônio nos conduza à paz interior e à serenidade diante dos desafios.

domingo, 26 de maio de 2024

A PERFEIÇÃO DO AMOR


 

A PERFEIÇÃO DO AMOR

 

O amor é um sentimento perfeito

E nós, seres imperfeitos,

Vamos lhe dando

Toques da nossa imperfeição...

 

Mário Feijó

26.05.24

terça-feira, 14 de maio de 2024

O FLAGELO NO RIO GRANDE DO SUL

 


O FLAGELO NO RIO GRANDE DO SUL

 

Tenho um amigo abrigado, agora, que diz que o flagelo no Rio Grande do Sul parece aquela história do enxugar gelo, tá sempre tudo molhado. E a cada dia aumenta o número de desabrigados. E a água não desce, e não para de chover.

É uma dor tão grande que não cabe mais no peito das pessoas. Algumas, anestesiadas, não querem sair de onde estão. Entregaram seus pontos...

Ouvi um socorrista dizendo:

- Senhora saia daí. A água vai subir e será pior que antes. Vá para a casa de um amigo, um parente...

E ela responde:

- Eu não tenho mais ninguém, não tenho mais nada. Ficarei aqui.

E chegam ajuda. Mas, têm aqueles que mandam roupas sujas, sapatos com sola furada. Isto não é ajuda. Isto é deboche. Se você não tem nada para fazer, deixe seu lixo com você e não deboche do infortúnio alheio.

E têm aqueles que, feito um animal de rapina, que esperam a oportunidade para avançar sobre os indefesos e tirar proveito.

Ontem vi uma reportagem onde a dona de um supermercado, que não foi atingido pelas chuvas, teve toda a mercadoria roubada, mais seus computadores, geladeiras, freezers... deixaram somente as prateleiras. Somos humanos? somos racionais? ou apenas aves de rapina, hienas que devoram sorrindo.

O que acontece no Rio Grande do Sul poderia acontecer em  qualquer parte do país...  acontece em outras partes do mundo porque todos habitamos uma única casa. O planeta é uma casa e tem gente que pensa só no que pode lucrar. A vida é tão curta e um desastre natural pode destruir tudo em pouco tempo.

Será que não deveríamos ser mais racionais? cadê a empatia? onde está o amor ao próximo? Tudo se perde neste momento onde o caos impera. Temos a impressão do final dos tempos. Quem se salvará? É a pergunta que fica. Estamos construindo o quê para este espírito que nos habita?

Primeiro convivemos com uma pandemia, onde ninguém aprendeu. Agora é isto no sul do Brasil, tido como um paraíso, um lugar prodigioso. E amanhã onde será? Será que vamos aprender alguma coisa com mais este caos, diante de tanta tristeza?

O pior ainda está por vir... são as pessoas tentando reconstruir tudo diante de tantas incertezas, porque agora qualquer chuva gerará apreensão e desespero.

 

 

Mário Feijó

14.05.24   

sexta-feira, 26 de abril de 2024

CHORAR É PARA OS FORTES

 


CHORAR É PARA OS FORTES

 

Eu não devo chorar

Nem tampouco lamentar

Pela vida que tenho

 

Ao entrar nela eu chorei

E chorei porque senti tudo

O que me esperaria pela frente

 

Por que continuar chorando

Se não tenho mais o útero

Materno que me protegia

Então tenho que ir à luta e vencer minhas batalhas

 

Eu chorava quando criança

Ao cair e me machucar

Agora descobri que chorar é para os fortes

Mas viver chorando é para os fracos...

 

Mário Feijó

26.04.24