sábado, 19 de abril de 2014

A MENINA RUIVA E O GOLFINHO AZUL




A MENINA RUIVA E O GOLFINHO AZUL

Todos os dias na embocadura do rio, pertinho da beira do mar, vinha um golfinho azul saltitar. Pulava e brincava como se brincasse com alguém.
Um dia encantado com o espetáculo eu me aproximei para olhar e percebi que ele não estava realmente só. Brincava com uma menina ruiva que se escondia num arbusto da margem.
Ele saltitava como se sorrisse feliz. Ela conversava com ele. Ambos se entendiam.
Não deixei que me vissem. Fiquei apreciando o espetáculo que durou quase uma meia hora. De repente apareceu a mãe da menina chamando-a:
- Clarisse! Clarisse, onde você está?
- Aqui mamãe! Na beira do rio, respondeu ela.
- Venha para dentro menina. Não está vendo que vai chover?!!!
Clarisse deu um adeusinho para seu amigo e sai correndo em direção à sua casa.
O golfinho deu um mergulho e sumiu. Só reapareceu já bem distante no mar.
Eu fiquei ali mais um pouco memorizando a cena que tinha visto, um pouco extasiado, um pouco encantado.
De repente uma rajada forte de vento me tira do devaneio, a ponto de me deixar arrepiado, estava ficando frio. Ao longe ouço o barulho de uma trovoada. Mais um motivo para eu sair daquele estado de torpor, um tanto quanto assustado com a mudança de tempo e com o que aquela tempestade poderia fazer comigo. Corro para o carro estacionado nas proximidades e vou pra casa.
Em casa, não consigo esquecer a cena. Penso:
- Amanhã eu volto. Quem sabe à mesma hora e fiquei à espreita.
Passado algum tempo, onde eu já pensava em ir embora aparece a menina em um vestido rosa, cheio de rendas e babados, com uma fita descendo em laço, do pescoço até a cintura. Parecia uma boneca. Antes eu não a vira direito, agora sim.
Ela trazia nas mãos alguns pedaços de peixe, dentro de um saquinho plástico e os atira ao mar, um a um, quando vê seu amiguinho se aproximar.
Parece que o golfinho azul a reconhecia e quando a via já ficava a saltitar feliz. Ele saltava e ela gargalhava. Era como se eu ouvisse música, pois era a gargalhada mais doce que eu já ouvira. Daquelas que dá vontade de rir junto. Ele saltava e esguichava um água misturado com um barulho próprio dos golfinhos.
Eu tinha a impressão que eram velhos amigos se encontrando. Ele vinha até bem perto de onde a menina estava.
Era mágico ver a inocência da criança, interagindo com a inocência típica de um animal dócil e encantador. Havia amor entre aqueles dois seres. Um amor que deveria existir entre todos os seres humanos.
A menina ruiva, com seus cabelos crespos, tinha nos cabelos um laço de cetim azul, o vestidinho parecido com o daquelas bonecas antigas, davam a ela um ar angelical. Interagia com aquele animal marinho selvagem com se este fosse um amigo de longa data. E assim os dois passavam os finais de tarde a conversar sobre suas vidas. Um dando encantamento ao outro.
Nós somos sonhos que não quer morrer. Sonhos que teimam em sobreviver a cada lua cheia; em cada primavera florida e perfumada; em cada inverno aconchegante no calor das cobertas ou das lareiras acesas; em cada outono agradável e cheio de frutos; em cada verão excitante e com o colorido jovial das praias.

A criança dentro de nós, na maioria das vezes é esquecida quando somos adultos e ressuscita quando amadurecemos porque nesta hora percebemos que passamos boa parte da vida correndo atrás do impossível, porém a felicidade é feita de coisas simples e banais, ela faz parte do nosso cotidiano.
Algumas vezes esquecemos de sorrir e nossas feições envelhecem. O sorriso é a janela de nossa alma, nosso cartão de visitas para dias melhores.
A menina de cabelos ruivos continua sentada na beira do rio conversando com seu golfinho azul. Mas e a nossa criança? Onde ficou esquecida? Onde está sentada? Em que tempo da vida você deixou de sorrir, de sonhar?
Pensem nisto e vamos começar a contar estrelas. A formar figuras nas nuvens do céu. A observar as joaninhas nas flores e a ouvir os recados do vento...

Mário Feijó
19.04.14

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO



POETRIX

O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO

Na esquina milho de pipoca
Se era macumba
O cavalo comia enfeitiçado

Mário Feijó
17.04.14

CORAÇÃO POETA



CORAÇÃO POETA

Gabriela disse à sua mãe:
- Isabela faz o meu coração chorar
Mas não é toda hora, mamãe
Agora por exemplo: o meu coração sorri.

E toda vez que bate o vento
Naquela cidade à beira das Lagoas
A menina em seu vestido de rendas
Olha pros cata-ventos e solta pérolas

Ela tem apenas três anos e a irmã sete,
Isabela já vive no mundo das artes
Faz poesias com a avó,
Vai a saraus, pinta e borda literalmente

Quando pode sugere temas aos poemas
Recita-os e encanta aos que lhe ouvem
Gabriela apenas administra seu coração
Que mesmo sangrando, horas chora e noutras sorri...

Mário Feijó
17.04.14

FALTA-ME O AMOR




FALTA-ME O AMOR

Se houvesse excesso de sexo
Talvez eu nem percebesse
A falta que o amor me faz
Porque a paixão me satisfaria

Mas falta amor e sexo
Ou sexo com amor
Eu já nem sei mais
Porque há muito
O amor me abandonou

Fica tudo desconexo
Quando não temos a quem amar
Dizem que talvez eu esteja cego
E não vejo o amor que está por perto

Neste caso eu arrancarei meus olhos
Para que minh’alma
Possa encontrar o amor
Que nos encontra cegamente...

Mário Feijó
17.04.14

terça-feira, 15 de abril de 2014

VOLTANDO PROS SONHOS DE CRIANÇA



VOLTANDO PROS SONHOS

Saímos pelo mundo
A conversar com girassóis
Borboletas azuis
E passarinhos verdes

Fomos até à beira-mar
Catamos conchinhas na areia
Corremos atrás de gaivotas
E jogamos pedrinhas n’água

E na mata rasteira
Vimos caranguejos
Que corriam assustados
E as garças que deles se alimentavam

Ao cair da tarde
Abrimos um livro
E voltamos aos nossos
Belos sonhos de criança

Mário Feijó
16.04.14