CARTA PARA VOCÊ
Capão
da Canoa, 21 de janeiro de 2021
Olá
Como vai
você nestes tempos tão difíceis, onde a vida nos pegou de surpresa e nos fez
prisioneiros em nossos lares?
Acho interessante
contar que eu me dei um pouco de liberdade para sair e viver com cuidados. Não me
tornei neurótico, embora tenha percebido que alguns amigos e parentes se
tornaram.
Queria te
contar que minha irmã perdeu um filho de quarenta e seis anos nesta pandemia. Exatamente
no dia dos pais de 2020. Um sobrinho e afilhado querido que já tinha problemas
sérios devido a um acidente de moto sofrido há mais de quinze anos. Foi lamentável!
Ainda sofremos com sua perda e minha irmã muito mais ainda. Ele havia se
tornado o seu favorito devido a todas estas circunstâncias. Não é à toa que
agora em janeiro operou um câncer...
Tenho saudades
de muita gente. Principalmente de minhas tias Lourdes e Magdalena, irmãs de
minha mãe que eu sempre visitava, a primeira com 92 anos, a segunda beirando os
80. Moram na Palhoça, próximo à Florianópolis. E de minha madrinha -
D. Bega, que já não lembra mais direito de nada, nem de si mesma. É tão lamentável
ver a vida indo embora assim... levando a gente das pessoas e as pessoas da
gente.
Quero contar
a você que tenho muitos primos, mas adoro Edna e Carla – Edna sempre muito
próxima, mesmo distante, Carla, distante e morando tão longe (Alemanha), outro
dia me ligou com duas de suas filhas que moram e vivem lá. Adorei o encontro. Tenho
um carinho muito grande por elas...
Meus irmãos,
eu gosto demais deles, mas a vida os distanciou de mim. Eu continuo o mesmo,
porém eles pensam que eu fiquei rico e me afastei. A verdade é que eu não
fiquei rico, só resolvi ficar quieto no meu canto. Não é verdade nada disto,
mas eu queria registrar pra você que me lê que isto me incomoda. É como se eu estivesse
fazendo uma confissão.
Não quero me
tornar enfadonho e falar somente de mim, mas não posso deixar de te contar que
amo meus filhos e eles estão distantes em todos os sentidos. Luiza a mais nova
é a mais próxima, entre todos. Lamento que eles não tenho me descoberto a
pessoa que eu sou ou poderia ser. Quiçá um porto seguro para eles. Eu queria
poder ser o que minha avó foi para mim e ainda é mesmo não estando mais
presente em carne e osso. Ela corre nas minhas veias, feito o nome que tinha:
Felicidade e isto ilumina minha vida.
Também queria
contar que tenho nove netos e fiquei muito feliz ao descobrir que terei mais
um. Torço pela felicidade dele e de seus pais, afinal de contas será mais um
tataraneto de minha avó Felicidade. Tenho orgulho de ter netos já adultos: o
Felipe já formado em administração e a Lara e a Larissa que moraram comigo até
pouco tempo, mas que ainda são minha responsabilidade e fazem faculdade em
Florianópolis. Atualmente moram com a Zezé, minha ex-mulher e eterna amiga.
Ah! Também queria
te contar que tenho alguns amigos (não vou nomeá-los), mas você conhece alguns
deles, e também alguns amores. Uns que já saíram de minha vida, outros que
ainda circulam por ela. A maioria me decepcionou em algum momento, mas a vida
segue. Eu também devo ter decepcionado-os. A gente nem sempre acerta nas
atitudes e não somos perfeitos, mas nunca pretendi prejudicar ninguém. Eu procuro
perdoar a todos. Façam isto também comigo, se acharem libertador. Nunca tive a
intenção de prejudicar ninguém intencionalmente.
Não me
julguem, por favor, hoje vi um vídeo que falava de cartas e pedia para que escrevêssemos
uma carta pra nós mesmos. Eis-me aqui fazendo isto... quem sabe você também
comece a fazê-lo. Quem sabe nos sentiremos melhores...
E os
amores?... estes geralmente são duradouros em minha vida, mas quando dou um
basta o sentimento morre. Estou vivendo este momento. Tentando salvar um amor
perdido, se ele vai sobreviver só o tempo dirá.
Mas você
como está? Fale-me de você, fale-me um pouco de tua vida, das coisas que te
afligem...
Beijos saudosos,
Mário Feijó