“PLACER: MARTA!”
Ela já nem lembrava
mais se algum dia um homem habitara aquele corpo. E se não olhasse no espelho
jamais saberia deste fato.
Talvez estivesse na
casa dos oitenta anos, mas o que menos importava naquele momento era a idade. Ela
sabia que era mulher e não se importava com o que os outros viam.
A primeira vez que vi
Marta foi numa praça, junto a uma feirinha, dessas que vendem de tudo, na “cidade
velha”, no centro de Montevidéu, coincidência ou não, a Praça da Independência,
onde o General Artigas – herói da independência do Uruguay reinava imponente em
seu cavalo, numa estátua com mais de dez metros de altura – ele deveria estar
se revirando no túmulo, ali junto à estátua. Seus tempos eram outros, nos dias
de hoje tudo é possível na praça, entre a grama e as ervas que por ali eram
fumadas.
Num banco próximo onde “Marta”
descansava as pernas doloridas sentou-se uma freira com casaco de pele de “oncinha”,
bem curtinho, somente de meias arrastão, visto que a saia, ela talvez tenha “esquecido”
de colocar.
Na grama, com quase dois
metros de altura e, provavelmente beirando os cem quilos, uma Madre Superiora
descansava, fazendo pose para as fotos dos que por ali passavam, enquanto
descansava as pernas daqueles saltos altíssimos... é conveniente salientar que
a Madre também não usava saia, penso ser moda na sua congregação...
Tudo era festa e Marta
sentia-se a “rainha da parada”, mas a congregação religiosa arrebanhava muitos
súditos. Os trajes, para Marta não importavam, ela vestiu-se com um lindo laço
azul no pescoço, de um tecido que devia ter um metro de largura por três de
comprimento, portanto algo “discretíssimo” frente às demais colegas. A boca não
tinha mais dentes, mesmo assim ela a contornou com um batom “vermelhinho”. No olhar
(que não parava de piscar, parecia uma sinaleira com defeito) apenas uma sombra
levemente azulada e um traço de contorno que apontavam aos céus, numa leve
insinuação à imagem de “Amy Winehouse”. Mesmo sem os dentes era perceptível que
ela mascava discretamente alguma coisa, talvez um chiclete ou era apenas um
charme a mais para chamar a atenção dos “chicos” que ela encarava
acintosamente, como se fora uma adolescente irresistível.
Não foram somente estas
figuras que eu vi em Montevidéu e nada do que eu possa dizer tem o caráter de
diminuir o povo e as belezas da cidade.
Quando eu me preparava
para deixar a cidade fui visitar a linda rodoviária de Montevidéu – nunca vi
rodoviária tão bonita, limpa e organizada – junto da rodoviária há um dos
shoppings mais bonitos “Tres Cruces” que jamais vi um tão belo junto a uma
rodoviária. Sentei para tomar um café e do outro lado percebi uma “senhorinha”
que conversava, conversava... Custei para identificar que era com um amigo
invisível, mas esta conversa merecerá uma outra crônica. Não quero agora estragar
o: “Placer: Marta”...
Mário Feijó
30.09.13