PULSARES
A
vida, pra mim, tem sido uma sequência de pulsares. Tenho ouvido todas as
batidas do meu coração e o barulho de meu sangue por dentro das minhas
artérias. Não é coisa de louco não, embora eu já nem saiba mais se sou normal.
Outro dia eu li que o nervo trigêmeo faz isto. Até tem conserto, mas quem
consertará uma máquina humana envelhecida e estragada neste país
subdesenvolvido, onde a saúde, a educação e tantas outras necessidades básicas
viraram um caos?
Quem
irá se incomodar com as dores de um velho? Os filhos nem nos percebem, não nos
ouvem, não nos veem.
Só
o nosso cérebro jovem assiste a tudo de camarote, e por vezes ri, debocha e
tripudia da gente. Eu não sou de reclamar, não estou reclamando, é só um
devaneio tolo de uma noite de insônia.
E
o meu coração pulsa mais forte e dói quando eu digo não a um filho. E quando
digo isto, sinto que silenciosamente me odeiam, que silenciosamente entendem o
não como um ato de desamor. Eu só queria carinho e ser compreendido, mas como
se não sou escutado. Então só resta dizer não, sem nenhuma explicação. E todos
os nãos têm razão de ser. Todos os nãos têm um motivo.
Um
não a um filho retorna como resposta de “não te amo”. Mas não é isto. Nós
sempre os amaremos incondicionalmente, embora eles não nos amem assim. Ninguém
nos ama assim. Até o sol, agora é inclemente com a nossa pele e tão cruel com
as nossas carnes, cada vez mais geladas, nas noites insones.
E
nos pulsares das noites mal dormidas quando os tambores dos meus ouvidos me
acordarem novamente tenho que escutar do meu cérebro que a vida pede calma, mas
eu tenho pressa em viver. Uma quase urgência porque o sol da minha vida já está
se pondo e eu não tive para fazer tudo o que eu queria, na minha vida curta de
borboleta.
Tenho
pressa no amor. Tenho pressa em amar e sou intenso, embora saiba que é preciso
ter calma, para não perder a lucidez.
Quem
entenderá as razões das minhas escolhas? Quem entenderá os meus nãos? Só meu
cérebro que aprendeu a ser feliz e que cansou de ser racional. Acho que o meu
cérebro adotou o meu coração por isto ouve os meus pulsares.
Voltei
a ser nativo em meu corpo cansado. Ouço agora todas as suas batidas, sem saber
como mandar sinais de fumaça, pedidos de socorro para as minhas noites insones,
para as minhas noites vazias e solitárias.
Certamente
é a distância do mar, sempre ali tão próximo e companheiro, quem agora manda
seu recado nos pulsares das minhas veias... Até quando? Só Deus sabe...
Mário
Feijó
11.07.13