DORES D’ALMA -
crônicas
Eu
tenho me perguntado muito, ultimamente, de que matéria foram construídos os
seres humanos. Todos andam tão frios, distantes. Ninguém mais sente falta de
beijos, abraços fraternos, de amor de verdade. Parece que todos se bastam.
Eu sinto falta de tudo isto.
Parece que ninguém mais sabe ser verdadeiro. Nem filhos, nem irmãos, nem os
demais parentes. Os que se dizem amigos também estão distantes. Por que será
que eu não sei agir assim?
Quando eu penso em amor,
carinho, amizade, fraternidade penso em Felicidade – minha avó Felícia – ela é
o meu padrão, minha base. Ela me agasalhava entre sua barriga roliça e seu
peito gordo de uma forma tal que, talvez, nem no útero de minha mãe eu tivesse
sido tão acolhido e feliz.
E, quando eu falo em
Felicidade é algo que não tem limites. Lembro que não havia falsidade, nem
mesmo quando eu a vida esconder seu prato de comida embaixo da cama, só pra
dizer à visita que chegava em má hora que não comia porque não tinha fome.
Penso, com minha cabeça de criança, que era uma forma de dizer eu tenho fome de
abraços. Venha e me abrace, não me abandone por muito tempo.
Eu não saberia usar tais
métodos, mas confesso que também sou e estou sempre carente de abraços.
Eu amo as pessoas
intensamente, porém sempre me parece que elas não têm nada para dar. E, muitas
delas, a quem eu já dei muito amor, não sabem mais trocar carinho. Trocar por
nada, só pra ver o outro sorrir. Outras simplesmente me viraram as costas,
porque se bastam. Fiquei meio “gato escaldado” e não corro mais atrás de
ninguém, tenho medo de água fria. Odeio mentiras e traições, e sempre tentam me
enredar em alguma delas.
Muita gente acha que não
preciso de nada. Não mereço presentes. Porém, continuo a mesma criança carente
que já passou fome. Fico feliz quando sou lembrado, quando ganho uma flor, um
chocolate ou um pote de balas. Parece mais fácil julgar e condenar. Cada um usa
de métodos cruéis para julgar os outros, mas ninguém usa-os para julgar a si
mesmo, ou se colocar no lugar do outro. Fica mais fácil condenar.
Eu tenho muitas dores, desde
adolescente. Dores no corpo e na alma. Já senti muita rejeição e a maioria me
olha como se eu tivesse muito dinheiro e nenhuma dor. Gostaria de ter tanto
dinheiro quanta dor que tenha afligido meu corpo e minha alma, porém não vou
reclamar. Não quero dó. Sempre procurei o amor e continuo a fazê-lo.
Eu era tão feliz quando
criança, uma criança que cantava ouvindo o rádio bem alto, aí uma vizinha
contava para meu pai, que me batia por ter feito muito barulho. Coisas
inocentes, mas castradoras. Comecei a escrever dores em poemas, amores em
prosa. Foi minha forma silenciosa de me expor. Tornei-me um artista frustrado
embora continue a fazer arte aleatoriamente. Não falava de minhas dores n´alma,
agora falo porque são apenas cicatrizes. Embora as dores no corpo tenham ficado
toda vez que o frio aparece. É como se o meu cobertor fosse arrancado e os
ossos doam devido ao choque térmico. Nunca falei isto, até porque nunca fui
suficiente amado para criar uma cumplicidade que me aquecesse e me curasse a
alma.
Continuo sentindo a falta de
amores fraternos. Falta-me o calor do fogão à lenha de vovó e seus braços
pequeninos me enlaçando e me curando das feridas que a vida me impôs. Faltam-me
abraços sinceros para curar minhas dores...
Mário Feijó
Janeiro/ 2020
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