segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

DORES D’ALMA




DORES D’ALMA     - crônicas

                Eu tenho me perguntado muito, ultimamente, de que matéria foram construídos os seres humanos. Todos andam tão frios, distantes. Ninguém mais sente falta de beijos, abraços fraternos, de amor de verdade. Parece que todos se bastam.
Eu sinto falta de tudo isto. Parece que ninguém mais sabe ser verdadeiro. Nem filhos, nem irmãos, nem os demais parentes. Os que se dizem amigos também estão distantes. Por que será que eu não sei agir assim?
Quando eu penso em amor, carinho, amizade, fraternidade penso em Felicidade – minha avó Felícia – ela é o meu padrão, minha base. Ela me agasalhava entre sua barriga roliça e seu peito gordo de uma forma tal que, talvez, nem no útero de minha mãe eu tivesse sido tão acolhido e feliz.
E, quando eu falo em Felicidade é algo que não tem limites. Lembro que não havia falsidade, nem mesmo quando eu a vida esconder seu prato de comida embaixo da cama, só pra dizer à visita que chegava em má hora que não comia porque não tinha fome. Penso, com minha cabeça de criança, que era uma forma de dizer eu tenho fome de abraços. Venha e me abrace, não me abandone por muito tempo.
Eu não saberia usar tais métodos, mas confesso que também sou e estou sempre carente de abraços.
Eu amo as pessoas intensamente, porém sempre me parece que elas não têm nada para dar. E, muitas delas, a quem eu já dei muito amor, não sabem mais trocar carinho. Trocar por nada, só pra ver o outro sorrir. Outras simplesmente me viraram as costas, porque se bastam. Fiquei meio “gato escaldado” e não corro mais atrás de ninguém, tenho medo de água fria. Odeio mentiras e traições, e sempre tentam me enredar em alguma delas.
Muita gente acha que não preciso de nada. Não mereço presentes. Porém, continuo a mesma criança carente que já passou fome. Fico feliz quando sou lembrado, quando ganho uma flor, um chocolate ou um pote de balas. Parece mais fácil julgar e condenar. Cada um usa de métodos cruéis para julgar os outros, mas ninguém usa-os para julgar a si mesmo, ou se colocar no lugar do outro. Fica mais fácil condenar.
Eu tenho muitas dores, desde adolescente. Dores no corpo e na alma. Já senti muita rejeição e a maioria me olha como se eu tivesse muito dinheiro e nenhuma dor. Gostaria de ter tanto dinheiro quanta dor que tenha afligido meu corpo e minha alma, porém não vou reclamar. Não quero dó. Sempre procurei o amor e continuo a fazê-lo.
Eu era tão feliz quando criança, uma criança que cantava ouvindo o rádio bem alto, aí uma vizinha contava para meu pai, que me batia por ter feito muito barulho. Coisas inocentes, mas castradoras. Comecei a escrever dores em poemas, amores em prosa. Foi minha forma silenciosa de me expor. Tornei-me um artista frustrado embora continue a fazer arte aleatoriamente. Não falava de minhas dores n´alma, agora falo porque são apenas cicatrizes. Embora as dores no corpo tenham ficado toda vez que o frio aparece. É como se o meu cobertor fosse arrancado e os ossos doam devido ao choque térmico. Nunca falei isto, até porque nunca fui suficiente amado para criar uma cumplicidade que me aquecesse e me curasse a alma.
Continuo sentindo a falta de amores fraternos. Falta-me o calor do fogão à lenha de vovó e seus braços pequeninos me enlaçando e me curando das feridas que a vida me impôs. Faltam-me abraços sinceros para curar minhas dores...

Mário Feijó
Janeiro/ 2020

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