MINHA SANTA IGNORÂNCIA
Muita coisa em mim mudou, desde
que eu descobri que não sou mais jovem, nem criança.
Descobri que posso fazer tudo o
que quero, mas nem tudo o que eu quero eu posso. Tenho que obedecer aos limites
do meu corpo. Aprendi que eu posso subir numa escada, no entanto se eu cair
dela, as consequências deverão ser desastrosas, devido à idade que tenho.
Eu até já me achei muito
inteligente, quando era jovem, porém comecei a respeitar minha ¨santa ignorância¨.
A maturidade me fez descobrir que há muito a aprender e quanto mais eu aprendo
mais descubro que pouco eu sei.
Eu aprendi a calar, diante da
sabedoria de outro. A ouvir mais do que falar. A respeitar o outro, mesmo
quando o outro pensa é um suprassumo e eu vejo que não o é. Aprendi a ser
humilde. A humildade nos traz sabedoria.
Aprendi que o ser humano está
doente e eu não devo usar minhas doenças como se fossem um troféu, ou como
forma de chamar a atenção dos outros. Aprendi a silenciar no sofrimento porque
sempre haverá alguém querendo nos dar um remédio, ou conhecendo alguém que já
morreu disto, ou até que ficou aleijado por este motivo. Aprendi que falar de
doenças nos torna frágeis, pequenos e a vida está aí, para que lutemos pela
sobrevivência, só assim seremos grandes, foi assim desde a nossa concepção.
Eu, ainda, aprendi que meu
corpo se fragiliza a cada ano que passa, mas a minha cabeça diz que eu posso,
porque eu estou vivo, e dentro dela eu não envelheci. Só envelhece quem fica
balançando numa cadeira, num canto qualquer da vida, ouvindo os outros dizerem:
“você não pode” e você acha que é inútil. Sempre podemos ser úteis a alguém ou
a nós mesmos. Nada como respirar fundo e sentir-se vivo com o sol no rosto ou
aproveitando o que a natureza nos proporciona.
Se você tiver condições viaje
mais e gaste menos com coisas que só vão se acumular, se não tiver condições
leia e viaje da mesma forma. A leitura é uma viagem gratuita, aproveite.
Bendita esta “Santa Ignorância”
que me abre para a vida e para aprender que enquanto eu tiver inteligência para
aprender com os outros, ou com os livros (e agora também com a internet), viver
é uma experiência diária e aprender é infinitamente necessário à nossa
evolução.
Eu não lamento a idade que
tenho. Estou na idade em que amigos queridos começaram a ir embora. Já sofri
com a perda de meus pais. Já sofri com a perda de um filho. Já sofri com a
partida de pessoas companheiras da vida. O que mais me resta senão agradecer
pela sobrevivência, sem reclamar, enaltecendo o aprendizado que é a VIDA.
Mário R. Feijó
11.09.19
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