quinta-feira, 31 de julho de 2014

RONRONANDO



RONRONANDO

Primeiro veio ele se chegando
Aninhou-se ao lado do meu travesseiro
Fechava os olhos fazendo de contas
Que estava cochilando
A intenção era não ser expulso da cama
Onde eu já me aninhava para dormir

Ela, mais arisca, veio depois que ele
Antes se atracou em meus cadarços
Puxando, desamarrando meu tênis
Enquanto pulava e espirrava
Fazendo uma algazarra no quarto

Eu tinha deitado para descansar
(Como somos todos animais)
Resolvi partilhar meu espaço
Com aquele casal de gatos
Que na minha cama se instalou...

Ronronando...

Mário Feijó
31.07.14

ORDEM DOS POETAS BRASILEIROS entrevista Mário Feijó

Ordem dos Poetas Brasileiros ENTREVISTA O POETA MARIO FEIJÓ (UM FORTE ELO DE AMOR COM A POESIA)

O POETA MARIO FEIJÓ JÁ É UM POETA CONSAGRADO, SEJA PELA EDIÇÃO DE SEUS VÁRIOS LIVROS, SEJA PELO CARINHO E RESPEITO QUE COLHE DE SEUS FÃS E AMIGOS. DONO DE UMA POESIA LÍMPIDA, MODERNA, ATUAL ELE TEM SE DEDICADO TAMBÉM A MINISTRAR A VÁRIAS OFICINAS DE POESIA PELO PAÍS, ESSE MESTRE EM LITERATURA É SEMPRE INTENSO NAQUILO QUE FAZ, PROVA É ESTA ENTREVISTA CONCEDIDA DE ALMA ABERTA E COM TODO O CARINHO DELE PELA POESIA E POR OS AMIGOS DE OFICIO. PARABÉNS POETA.

ENTREVISTA CONCEDIDA AO POETA MAURICIO DE AZEVEDO


1- QUEM É O POETA MÁRIO FEIJÓ?

R- Mário Feijó é um sonhador, por isto multiplica seus sonhos em poemas, em amor, em qualidade de vida. Incentiva que os outros façam o mesmo porque amar não dói e o amor é a única coisa que quanto mais você dá mais ele se multiplica em sua vida... curriculum... por aí tem alguma coisa minha, hoje se acha tudo na internet...

2- COMO O POETA VÊ A ATUAL PRODUÇÃO POÉTICA BRASILEIRA?

R- A atual fase poética brasileira é uma das mais profícuas e criativas, mas como em todas as áreas tem muito joio misturado ao trigo. Existem muitos pseudos-poetas, gente que acha que escrever um lamento de amor em forma de poema é poesia... Mas há espaço pra todos, os melhores sobrevivem: é a lei da natureza.

3- O POETA JÁ LANÇOU VÁRIOS LIVROS, QUAL A SUA EXPECTATIVA EM RELAÇÃO AO MERCADO CONSUMIDOR QUANDO DO LANÇAMENTO DE UM LIVRO?

R- Quando eu lanço um livro, sinceramente, não tenho expectativa nenhuma. O que eu queria é que me lessem, que lessem pedaços de jornais, que lessem uma folha que o vento traz, mas que lessem. As pessoas têm preguiça de ler e se acomodam na frente de uma televisão sem viver os sonhos que uma boa leitura oferece... Que a cultura e a educação evoluam: esta é minha real expectativa.

4- FALE- NOS DA SUA EXPERIÊNCIA COM AS OFICINAS DE POESIAS. COMO OS JOVENS REAGEM?

R- A minha experiência com as Oficinas Literárias é fantástica. Eu trabalho com grupos diversos, de crianças à idosos. Eu me sinto fazendo arte porque não é só poesia que levo: é a forma de ler; o encantamento dos contos e das histórias; a descoberta de que tudo podemos dentro da arte e quando temos um personagem, ele é nosso terapeuta. Outro dia um menino de nove anos, em casa, começou a ler pra mãe um conto que fez com seu personagem, numa visita ao Sitio do Picapau Amarelo (li um capítulo de Monteiro Lobato e mandei que o seu personagem visitasse e interagisse com os personagens do sítio). Foi um encantamento. A irmã de cinco anos ouviu e quis ir na Oficina, eu disse pode trazê-la... ela só escutava, pegou uma folha de papel e começou a desenhar. Depois dobrou escreveu o nome dela (que era a única coisa que sabia escrever) e no final da aula me entregou: "pra você Mário Feijó"... Isto foi uma realização. Senti que estava fazendo a coisa certa.

5- ACREDITA QUE ESTAMOS DIANTE DE UMA FASE PRODUTIVA DE POESIA NO BRASIL SEGUIDA DE QUALIDADE

R- . Quanto a estarmos ou não numa fase produtiva e fazendo coisas
com qualidade eu não sei. Só sei que os editores têm muito preconceito quanto à poesia e não querem publicar, mas cada livro que faço imprimo 1000 exemplares que vendo por onde ando ou a quem me solicita pela internet... sempre brinco que posso até financiar pelo sistema financeiro de habitação junto ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal (parece uma propaganda, mas nunca ganhei ou tive qualquer patrocínio de alguém, tudo é feito com recursos próprios e se eu não tivesse recursos não conseguiria publicar meus escritos). Não vivo de arte, nem de literatura. Vivo para elas.

6- QUAIS OS POETAS BRASILEIROS QUE INFLUENCIARAM A SUA OBRA?

R- Poetas que me influenciaram: quando eu era criança lia muito Pablo Neruda, José de Alencar, Machado de Assis, Érico Veríssimo e até aquelas revistas com novelas e qualquer pedaço de jornal que o vento trazia, pois não tinha dinheiro para comprar nada. Lia o que conseguia na casa de parentes ou na pobre biblioteca da minha escola pública. Hoje adulto leio Florbela Espanca, Elisa Lucinda, Carlos Drummond, Vinícius de Moraes, Olavo Bilac... mas minha preocupação na poesia é deixar em meus poemas uma mensagem onde o amor seja a essência. Penso que só o amor constrói... então permitam-se amar!

7- SEU NOME ESTÁ LIGADO A VARIAS ACADEMIAS E MOVIMENTOS DE POESIAS. QUAL A IMPORTÂNCIA DELES?

R- O meu nome está vinculado a algumas instituições... sim. Algumas. Mas não é isto o mais importante. O importante nestas instituições é que estamos junto daqueles que fazem o mesmo que nós. A convivência com gente que faz a mesma coisa e, ainda por cima inteligente, é ótima. Pena que nem todo mundo é tão inteligente (risos)... Nem eu, às vezes. Algumas vezes a literatura é vista como algo secundário e sem importância na vida das pessoas... Tive uma aluna de dez anos que a mãe dava R$ 10,00 para ela ficar em casa cuidando da irmã para não ir às minhas aulas. Isto que eu dava uma vez por semana a Oficina, mas aquela mãe não tinha ideia do que sua filha aprendia nas minhas Oficinas, e nem se importava com isto...

8- ACHA QUE O GOVERNO ESTÁ INVESTINDO CONCRETAMENTE NA POIS AI E LITERATURA BRASILEIRA?

R- O mais importante não é o curriculum que temos, mas a pessoa que somos. Cora Coralina não tinha curriculum escolar, no entanto nos ensinou tanto... por isto digo que não é o curriculum que faz a pessoa. O meu é só uma referência boba, para quem precisa disto para me dar valor, mas o meu valor não está no meu curriculum mas na pessoa que eu sou.. Quando o assunto é política, apesar de nós seres humanos sermos seres políticos, já determinaram filósofos como Sócrates e Platão, mas esta política obscura que aí está eu estou fora. O governo distribui em "conta gotas" recursos para a cultura e para a educação. Para a Cultura uma gota por mês e para a educação uma gota por dia. Não que isto resolva alguma coisa ou que a Educação ganhe muito mais. Mas enquanto este país não investir pesado na Educação e um pouco mais na cultura, continuaremos sendo uma colônia explorada agora por políticos safados, antes pelas nações poderosas. É o que eu penso hoje, amanhã quem sabe pense diferente, não sou o mesmo todos os dias. E diante de outros argumentos pode ser que minha opinião mude.

9 - O QUE DIRIA A UM JOVEM POETA QUE PENSA EM LANÇAR O SEU PRIMEIRO LIVRO?

R. Eu diria a um jovem poeta, antes de lançar seu primeiro livro (antes, bem antes) leia muito. Aprenda com quem faz. Não pense que uns simples "poeminhas" são obras primas. Peça para alguém que entende do assunto ler. Tenha humildade de aprender sempre... Passou por todas estas etapas: peça para alguém revisar seus textos. Agora sim publique e vá em frente... e boa sorte. Às vezes é só disto que se precisa na vida...

10 - ACHA QUE OS POETAS ESTÃO PROCURANDO REALMENTE OCUPAR OS ESPAÇOS QUE LHE SÃO PERTINENTES NA ESFERA PÚBLICA?

R- O que eu acho é que o Poeta não tem que se preocupar com espaços... Temos que fazer o que gostamos e deixar acontecer naturalmente tudo. Espaços são preenchidos por pessoas competentes; por pessoas com sorte e padrinhos; ou quando a pessoa tem dinheiro e se impõe. No entanto sobreviverá dentro da literatura e um dia será lembrado e jamais esquecido aquele que com conhecimento e competência fez o seu trabalho pautado no conhecimento adquirido, nas experiências de vida, e no amor que pratica por tê-lo em seu coração. Quem tem amor tem luz, brilha naturalmente feito as estrelas...

11- POESIA E POLÍTICA PODEM ANDAREM JUNTAS?

R- Poesia e política juntas... Até pode, mas não combinam. A poesia é uma flor, já a política como anda sendo praticada é lama. Não combinam. Mas tem flor que nasce até nos pântanos. Por exemplo, a flor de lótus, floresce nos pântanos. O que eu penso é que um poeta metido na política, do jeito que ela está hoje se corrompe. A regra é bem geral, mas deve haver exceções... (risos).

12- CITE UMA EXPERIÊNCIA AGRADÁVEL E UMA DESAGRADÁVEL COM A POESIA?

R- Uma Experiência agradável com poesia... até já citei anteriormente. O caso da menina de cinco anos que foi com o irmão assistir minha Oficina. Mas minha experiência com alunos na Cidade de Arroio do Sal - RS, adolescentes com idade entre 10 e 17 anos também foi muito frutífera, tanto que acabou sendo publicados dois livros com os trabalhos que eles escreveram... Já minha experiência negativa foi que assinado o contrato para ministrar oficina, coloquei uma cláusula onde o Prefeito teria que publicar o livro... esperei três anos pela publicação, no final da contas peguei meu dinheiro e publiquei eu mesmo o trabalho de mais de 30 alunos. Esta é uma das pérolas que um aluno de 10 anos escreveu: "BORBOLETA / Borboleta voando contra o vento / quem eu amo não me ama / Quem me ama perde seu tempo." Não é um encanto?

13- FALE TUDO O QUE DESEJAR SOBRE POESIA:

R- . Falar tudo o que eu quiser sobre poesia... bem, você mexeu num abelheiro. Se deixar eu farei um compêndio sobre isto. Mas direi poucas palavras: LEIA MAIS! Nunca pensem que seu primeiro "livrinho" é o maior best-sellers e que você irá ganhar o Prêmio Nobel de literatura com ele só porque sua família não tem coragem de dizer que adorou o livro, mas colocou na prateleira sem ler... espere pra ver se quem não lhe conhece compra seu livro, se isto começar a acontecer, você está no caminho certo... continue escrevendo, mas não pare nunca de ler seus colegas. Era isto o que eu tinha para dizer a respeito do assunto. Espero não ter decepcionado-os.
..
CARÍSSIMO POETA MARIO FEIJÓ. OBRIGADO PELA GENEROSIDADE DA SUA ENTREVISTA E PELA GRANDIOSIDADE DE SUA ALMA . ABRAÇOS. MUITO OBRIGADO.

terça-feira, 29 de julho de 2014

TU ÉS POESIA



TU ÉS POESIA

Eu já não sei quem és
Ainda ontem te disfarçavas de brisa
Só para eriçar meus pelos
E deixar em meus ouvidos recados

Outro dia vi que eras rosa
Quando com teus espinhos
Feriste minha pele
Só para sugar meu sangue

Eu que te pensei selvagem
Vi que eras apenas
Um pássaro fazendo ninho
Junto do meu quintal

Agora não passas
Da luz do sol
Que ilumina a minha vida
E orienta meus dias...

Mário Feijó
30.07.14

POÇA D'ÁGUA




POÇA D’ÁGUA

Chovera quase todo o dia
Por isto havia nos caminhos
Água que se empoçara

De repente ao passar por uma
Vejo meu olhar dentro dela
Chamando-me aflito
Como se o meu rosto se desprendesse

Mas atrás do meu olhar,
A poça já tinha aprisionado
Um pedaço do céu e a luz do sol,
Haviam nuvens correndo aflitas

Era um novo universo
Que aquela poça d’água formava
Roubando as cores do mundo e meu olhar
Que o calor do sol logo devolveu
Quando fez aquela poça d’água secar...

Mário Feijó
28.07.14

ESSE MENINO... VEM CÁ!!



ESSE MENINO... VEM CÁ!!

Pois não é que chegando ao céu, Jesus chamou Ariano:
- Esse menino, vem cá!
- Não vou não, pois nem lhe conheço.
Ariano que sempre vestiu seus personagens por outras paragens e algumas delas encaminhou para o céu, agora também estava por lá. E lá todos podemos ser o que quisermos. Ariano ainda não sabia o que queria e nem se queria mesmo estar por lá.
Disse ele outro dia, na televisão, que fizeram-lhe tanta festa pelos seus 80 anos que não sobrará motivos para comemorar quando ele fizer 160.
Agora ele já podia visitar a África. Era um sonho, desde que seus irmãos inventaram esta viagem fantasiosa e o excluíam. Fora queixar-se à mãe que disse: “é fantasia, menino! Programe também a sua”. Ao que ele respondera: “eu não quero embarcar na minha, quero ir com eles, mas eles não deixam”.
Na realidade ele confessou que não queria ficar sete horas em cima do mar, pensando que o assento era flutuante. Gostaria muito de ir à África mas se ela fosse coladinha à Paraíba.
Agora, no céu, ele poderia ir a onde quisesse porque tudo no céu é perto e do céu a gente não cai. Eu penso que todos ficamos pendurados num fio forte ou então temos asas invisíveis. Alguns dizem que viramos anjos, mas eu não acredito senão no céu haveria uma inflação de anjos. E com a falta de treino que temos para voar iriamos nos esbarrar todos uns nos outros.
Ah! Ariano... o céu certamente estava precisando de você, certamente irão encenar “O alto da Compadecida” e precisavam da tua supervisão. Ou quem sabe João Grilo e Xicó estão por lá aprontando todas e precisam de você para domá-los.
Agora você não precisa mais tomar os assentos dos aviões que estão preparados para boiar, caso caia o avião, porque você não cairá mais. Estará seguramente preso em sua cordinha invisível, aquela que prende os anjos no céu. Também nem precisa mais ser obrigado a tomar café só para agradar aos outros ou “por falta de personalidade”, como declarou, porque não gostava de café, mas tomava porque todos diziam que era bom. Agora certamente você já sabe que devemos fazer somente o que gostamos. A vida até pode ser curta, mas você a tornou longa aqui neste planeta, com suas histórias e fantasias que tanto encanta.
- Esse menino: vem cá!!!
- Não vou! Não quero ir! Deixa-me agora aqui no céu descansar um pouco...


Mário Feijó
29.07.14

P.S. Algumas das citações foram feitas pelo próprio Ariano, numa entrevista, retransmitida nesta madrugada pelo Programa do Jô.